SOBRE AS RAZÕES DO NÃO


Quase metade das pessoas que responderam ao inquérito, deram como principal razão para não virem a pedalar, a distância que teriam de percorrer até Carnaxide. As duas outras razões apontadas como maior factor de dissuasão, foram o receio de partilhar a estrada com o trânsito automóvel e as obrigações com o transporte dos filhos entre casa e a escola.

Das três causas maioritariamente escolhidas, a que mais objectiva solução tem é a que se prende com a dificuldade de encarar o estrada como um espaço seguro. Para além de se poder trabalhar os receios individuais através de aulas de condução de bicicletas em espaço urbano, como as que já existem tanto promovidas por instituições públicas como privadas, a reduzida amostragem revela-nos ainda assim, como é importante a implementação de medidas que reduzam a velocidade máxima permitida, aumentem as áreas reservadas aos peões e às bicicletas e regulem e disciplinem o estacionamento automóvel.

Se transpusermos estes resultados para o geral da população, fica-se com uma ideia de como um espaço urbano melhor arrumado, é a solução para o problema da mobilidade, no que tem a bicicleta como alternativa ao carro, duma percentagem não desprezível da população. No caso da SIC 16% dos funcionários.

O factor distância encerra uma certa subjectividade, na medida em que, para a avaliação dessa distância, contribui bastante em que condições é que ela teria de ser percorrida. E isto leva-nos de novo à questão do planeamento urbano. Melhores e mais seguras vias “encurtariam” as distâncias.

Estamos demasiado longe de cidades onde a enorme maioria dos alunos chega ou é levada de bicicleta à escola. A solução para este problema passará, no melhor  dos casos, pelo “sacrifício” de um dos pais para que o outro possa prescindir do carro.

De referir ainda que 8% da respostas referiram que a razão para não virem de bicicleta é que simplesmente não possuem uma. O Governo Inglês adoptou recentemente medidas fiscais bastante benéficas para as empresas que incentivem os seus trabalhadores a utilizarem velocípedes. As empresas poderão reaver o valor do IVA, além de adquirir a bicicleta em regime tipo aluguer, como se de um carro de serviço se tratasse. O trabalhador, por seu lado, escolhe a bicicleta, dentro de determinado plafond, pagando um pequeno valor mensal. No fim do tempo de aluguer poderá optar por liquidar o residual ou trocar de bicicleta e prolongar o regime de aluguer. O valor total pago ficará sempre muito abaixo do preço normal em loja. Foi recentemente aprovado pela Assembleia da República um projecto lei do PEV que cria um regime de incentivo fiscal à aquisição de bicicletas. Um pequeno passo, pouco publicitado, mas dado no caminho certo.

Se pelo menos metade das pessoas que responderam, passassem a vir diariamente pedalando para o trabalho, o efeito seria significativo. Como dizia um colega nosso que trocou recentemente as quatro pelas duas rodas “Como é que eu não me lembrei disto mais cedo! Mas o melhor vai ser quando recomeçar o trânsito depois das férias, é que chego mais depressa à SIC de bicicleta que de carro!” Quem se desloca em bicicleta contribui, de forma um pouco paradoxal, para a qualidade de vida dos automobilistas, deixando-lhes mais espaço livre…

Tendo estas perguntas sito feitas a pessoas que trabalham num órgão de informação, podemos avaliar o efeito que tem no nosso próprio bem estar a atenção que resolvamos dar aos temas da mobilidade sustentável das cidades em geral e à questão da bicicleta em particular.

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11 Respostas para “SOBRE AS RAZÕES DO NÃO”

  1. O Projecto de Lei 792/X do pev foi apenas publicado em Diário da Assembleia da República, o que é bastante diferente de dizer que foi aprovado.

    Provavelmente terá o mesmo destino do Projecto de Lei 581/X (Altera as normas para velocípedes sem motor do Código da Estrada. ) e será chumbado sem se falar mais nisso.

    • Il Gladiatore Says:

      Sim, foi publicado e baixou à Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
      Foi economia de texto que não me levou a especificar todos os passos, sendo que neste momento a proposta ainda não teve o destino que lhe augura.

      O projecto 581/X e o 638/X foram oportunidades perdidas para se darem passos importantes e urgentes, mas foram ambos rejeitados pela maioria PS, acompanhada ou não pelo PSD. O que não se compreende se nos lembrarmos que essas bancadas votaram favoravelmente os projectos 376/X e 152/X.

  2. É simplesmente o que tem acontecido com tudo o que é projecto de lei sobre esta temática.

    Projecto de Lei 580/X – Prevê o plano que define a rede nacional de ciclovias (http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=34080).

    Projecto de Lei 581/X – Altera as normas para velocípedes sem motor do Código da Estrada (http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=34081).

    Projecto de Lei 638/X – Afirma os direitos dos ciclistas e peões no Código da Estrada (http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=34243).

    • Il Gladiatore Says:

      O projecto 581/X e o 638/X foram oportunidades perdidas para se darem passos importantes e urgentes, mas foram ambos rejeitados pela maioria PS, acompanhada ou não pelo PSD. O que não se compreende se nos lembrarmos que essas bancadas votaram favoravelmente os projectos 376/X e 152/X.

  3. Os projectos 376/X e 152/X, são projectos de resolução e não projectos de lei. Basicamente consistem em recomendações ao governo.

    • Il Gladiatore Says:

      Sim, tem havido infelizmente uma tendência para as bancadas do PS e PSD, as maiores e logo as que decidem do caminho a dar às iniciativas legislativas de outros Partidos, de aprovarem projectos de resolução -aprovações positivas, mas que deixam o Governe sem grandes obrigações- e chumbarem, ora porque os rejeitam, ora porque se abstêm, os projectos Lei que alterariam realmente o quadro legar e as obrigações governativas.

  4. Viva
    A questão do transporte dos filhos casa/escola é realmente um problema. Mas também é possível transportá-los na bicicleta se estes estiverem numa escola próxima. Na escola do meu filho já somos 3 adultos a fazê-lo nos dias de bom tempo, um deles uma senhora.
    Assim será mais fácil as crianças perceberem que andar de bicicleta no dia-a-dia é possível evitando as várias maleitas da “back-seat generation”.

    Em relação às medidas fiscais que refere aplicadas em Inglaterra basta espreitar várias lojas online e ver as bicicletas adaptadas à utilização “commuter” com luzes, rack, guarda-lamas, etc. e até variados packs de vestuário (“there’s no bad weather only bad clothing” como se diz por lá) preparadas para “encaixar” no dito plafond. É uma medida excelente.

    Abraço

    • Il Gladiatore Says:

      Cada família terá exigências em termos de distância e timming e terá de tentar conciliar a bicicleta num meio pouco pensado para essa opção, embora muitos de nós nem nos damos conta de quão perto estamos por vezes de soluções mais racionais para o dia-a-dia, apenas porque nunca pensámos seriamente no problema.

      Em relação a alguns dos atrasos estruturais deste cantinho ibérico, acho sinceramente que se devem especialmente à ignorância. Se os decisores viajassem mais -em sentido lato e intercambiassem conhecimentos e reflectissem sobre a forma como se encaram problemas comuns noutras realidades, alguma coisa seria diferente. Até os nossos lojistas deveriam passear mais pela rede e tirar algumas ideias…

      Abraços!

  5. Sem dúvida!
    A D. Maria Emília viajou um dia até Estrasburgo e daí surgiu a ideia do Metro de superfície em Almada…a autarca de Sines que viajou aos países nórdicos e passou a fazer os 2 Kms que separam a casa e o trabalho de bicicleta…

  6. Afinal o Projecto de Lei 792/X nem chegou a ser chumbado, simplesmente caducou

    • Agora compare-se a relevância que uma iniciativa destas, e o seu desfecho, teria, por exemplo na imprensa britânica e o rol de caracteres impressos nos diários e semanários de referência lusos!
      Por cá chegam-nos as ciclovias de Benfica…

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