Levar sempre menos tempo
numa vertigem incontrolável
inconsolável
percorrer a viagem
amanhã mais depressa
sem olhar a margem
No semáforo e na passadeira
na fila, na bicha no raio que o parta
números vãos em sinais mudos
em trinta se mata a cem
para ultrapassar
para passar para onde chegar
Tudo adiado num futuro
é a crise que nunca mais passa
o TGV que não chega
o FMI que não entra
o salário que ainda não veio
e o polícia que não vê
Engarrafados numa vida a diesel
para o fim do cigarro
ao botão do elevador
nunca perdemos a compostura
ah mas se agarramos o tdi
abram alas para o Nodi
Bastava parar e olhar
ver à volta como anda o mar
e o sonho duma criança
e a bola colorida
a vida que passou
paisagem fugidia pela janela sem brisa
nem sonho
nem vento
apenas depressa
maldita velocidade

- Welwitschia Mirabilis, Damaraland, Namibia
Gostar disto:
Gosto Carregando...
Relacionado
This entry was posted on 28 de Novembro de 2010 at 23:56 and is filed under cycle of live with tags bicicultura, velocidade. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed.
You can leave a response, or trackback from your own site.
30 de Novembro de 2010 às 15:31
Vêem-me a ideia ritmos e melodias mas não é fácil.
Porquê a Welwitchia? Porque repousa impávida, cresce quase sem limites e sobrevive na sua paz ao frenesim que outros se impõem?
30 de Novembro de 2010 às 16:56
Porque a Welwitchia é uma planta que tem seguramente uma das maiores memórias à face da terra. Para a qual a vertigem em que vivemos deve ser tão estranha quanto para nós é o seu aspecto frágil e antigo ao mesmo tempo. Um fóssil vivo. Tranquilamente vivo.