GREVE DE BICICLETA? SEMPRE!
A história da bicicleta é também a história da industrialização e da proletarização. Ao mesmo tempo que o engenho inventivo foi convertendo o Dandy Horse no que viria a ser a Safety Bicycle, através da incorporação de dezenas de novidades tecnológicas, a bicicleta foi revolucionária também na mobilidade que possibilitou aos trabalhadores.
As novas indústrias poderiam instalar-se mais perto das fontes de energia e onde estavam as matérias primas, porque os operários dispunham finalmente dum meio de transporte que lhes possibilitava deslocarem-se diariamente para a fábrica. Era um tempo em que qualquer nova actividade industrial requeria abundante mão de obra e muita especialização, o que contrastava com a enorme dispersão pelo território e com a absoluta iliteracia das classes mais baixas, agricultores na maioria e pequenos artesãos.
Um destes dias de fim de Verão e ao passar por Canal Caveira, ali uns poucos quilómetros a sul de Grândola pela estrada nacional 120, meu pai contou-me dos quilómetros que palmilhara em miúdo pelo meio do montado, para levar a bucha a meu avô que então trabalhava na construção dessa mesmo estrada e por lá pernoitava. Foi outra a estrada que ele e muitos mais construíram pois que dessa primeira restam apenas vestígios abandonados duma ou doutra curva. Houvesse já nesse tempo uma bicicleta na família e muita sola (se de sola se tratava) se teria poupado.
Mais a sul, onde existe uma casa que já foi de fado, chegam mãos de muitos lugares da Europa, mãos que agora têm a liberdade de ser pobres em qualquer lugar do mundo e escolhem o nosso Alentejo para vir colher alfaces e morangos que nascem já com sotaque inglês. Não terá sido seguramente o doce do fruto vermelho ou a frescura das hortas que clamou longe mas a verdade é que chegaram jovens tailandeses para trabalhar nas estufas e por cada um destes improváveis agricultores alentejanos há uma bicicleta. Quando se deslocam para o trabalho ou vão à venda comprar a bucha não são peões, são ciclistas.
A bicicleta é não só um produto do desenvolvimento humano como é uma ferramenta para esse mesmo desenvolvimento. Hoje vivemos numa sociedade que volta a olhar, mesmo que seja de soslaio, para a bicicleta como chave para a solução de parte do problema da mobilidade. Uma sociedade construída também por operários que, do selim duma bicicleta ou construindo-as, produzem riqueza como nunca, ao mesmo tempo que vêm essa riqueza ser cada vez mais injustamente repartida. Uma sociedade que permite a acumulação de mais valias recorde por parte dos senhores do capital. Uma sociedade dominada pelo poder financeiro, enfeudada na maximização do lucro e condenando à precarização todos os que do seu trabalho vivem. Uma sociedade onde quem pedala tem cada vez menos direitos.
23 de Novembro de 2010 às 12:42
Li no Público de sexta-feira, dia 19, que, funcionários da Câmara do Porto, apoiados pela Polícia Municipal retiraram, 5ª fª, da fachada do edifício da Feseve e Sintevec (Sindicato dos têxteis, calçado e vestuário), um painel alusivo à Greve Geral do dia 24 de Novembro. Pensei… que grandes canalhas.
Então agora os sindicatos não podem colocar cartazes ou painéis a informar as populações de que vai realizar-se uma greve?
Dei comigo a pensar alto: Será que a ordem para a remoção do dito painel partiu de Rui Rio? É que se partiu do sr Presidente passará a ter o cognome de ‘o canalha’, e ficará a ser conhecido como Rui Rio, o canalha.
É verdade que o dito está nos antípodas do meu pensamento político, mas é daqueles políticos por quem eu tenho algum respeito.
Custa-me a acreditar que o canalha que deu ordem para que se fizesse aquela canalhice tenho sido o sr Rui Rio. Porque as pessoas têm direito à Greve e a colocar cartazes a dar conhecimento da mesma.
Não devemos deixar que os canalhas façam canalhices sejam lá eles quem forem, chefes de polícia, presidentes de câmara, 1ºs ministros ou outros.
Rui Rio, o canalha…será?
1 de Dezembro de 2010 às 21:03
Economia by Marx, em pleno século XXI? Dureza, hein?
1 de Dezembro de 2010 às 23:32
Encontrar Marx neste texto não me parece algo duro e é motivo de orgulho para o autor, embora este mesmo autor creia ser moleza encontrar Marx sempre que se aborda a evolução da sociedade desde, pelo menos, a revolução industrial.
A passagem de século não é por si só sinal de mudança alguma para lá de assinalar um marco no calendário que nem sequer é universal.
Enquanto o modelo de relações económicas que serviu de estudo a todo o trabalho de Marx persistir, Marx permanecerá actual.
Como a bicicleta.
2 de Dezembro de 2010 às 16:08
Böhm-Bawerk sepultou Marx já faz mais de um século.
2 de Dezembro de 2010 às 21:37
É verdade. E?…