Momentum


Este blog, na extensão pública do que eu penso hoje, e que não é forçosamente o mesmo que pensava “ontem”, não é um tratado moralista nem eu me julgo detentor de qualquer verdade insofismável sobre o provir da humanidade sentada numa bicicleta. Procuro sincera e modestamente desassossegar, questionar e criticar o que vou vendo sentado no selim. Tenho a consciência de que quase tudo do que por aqui vou deixando em forma de letra nunca chegará a lado nenhum, nunca mudará sequer o destino de um átomo. Mesmo sem ser engenheiro percebo que não é por falta de informação que os políticos, os autarcas e governantes que nos conduzem, insistem em escolhem os mesmos caminhos que nos guiaram até a este presente de betão, asfalto e automóveis. Fosse o urbanismo uma disciplina recente, incipiente, distante e muita coisa se desculparia mas com tanto saber e tanto fazer por este mundo global fora é quase insuportável este experimentalismo tuga. Se compatriotas meus como Nuno Teotónio Pereira e Gonçalo Ribeiro Telles com concretas provas dadas, são desaproveitados e ignorados e esquecidos, poderia esperar que a minha voz de burro chegasse ao céu? Certamente algum efeito venturoso terei. Uns pares de rodas andarão por aí com raios colhidos aqui. Uma ou outra vontade aguçada por um desafio bebido nestas páginas. Alguma inquietação passageira ou um punhado de sorrisos lidos nas entrelinhas. Não mais me caberá no balanço resultante desta actividade pouco disciplinada de escrevinhador de blog. É quando basta!

5 Respostas to “Momentum

  1. Mári Trindade Says:

    A pedalar também se pensa e é nas grandes subidas que os pensamentos são mais profundos. Não deixes de pedalar nem que sejas o único a fazê-lo.

  2. Caro amigo, mesmo não sendo V. Exa. um engenheiro de estradas como eu, tem tanta ou mais perspicácia para ver os erros urbanísticos e (maioritariamente) económicos associados ao exagero de construção de rodovias (supostamente rápidas) por este pais fora, que tanto estragam modos de vida (criando outros novos dependentes do automóvel) e arruínam as contas de um estado (entenda-se pais). Venho por este meio apelar a que nos continue a brindar com os seus textos tão pragmáticos e ao mesmo tempo tão ricos em conteúdo literário e sempre, sempre, tão aguçados como a lâmina de uma navalha do Palaçoulo.
    Bem haja.

  3. Paulo Regis Paim Alves Says:

    Caro Sr. Humberto:
    Moro em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, e acompanho seu
    blog a cerca de um ano e não o considero um mero escrevinhador
    blogs, como dizes. Pelo contrário, me identifico com o sr. nos problemas dos que pedalam em sua Lisboa,que ainda hei visitar um dia.Os seus temas enriquecem muito os meus argumentos nas
    reuniões para cobrar melhorias para a vida dos ciclistas de minha cidade.Sem contar o fato de não precisar traduzir o texto!
    Falamos a mesma língua tanto verbalmente quanto no desejo de termos uma vida sossegada nas nossas locomoções diárias, sem ter que xingar um motorista a cada cem metros pedalados. Parabenizo-o pela coragem e pela qualidade didática de suas colocações.
    Por favor, não deixe escrever, eu me sentiria meio órfão…
    Obrigado.
    Paulo Régis Paim Alves.

    • Paulo,

      Há já longos anos que não torno a esse imenso “Portugal”.
      Dele guardo muito boas memórias que não incluem no entanto nem bicicletas nem ciclistas. Outros tempos, outras idades.
      Lembro-me dos anúncios da Caloi nos livrinhos de quadrinhos da Monica.
      Obrigado pelas palavras simpáticas e incentivadoras.

      Abraços e quando decidir atravessar o Atlântico mande notícias.

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