Passou já um bom bocado desde o furor pré-eleitoral e da necessária conquista de todos os votos necessários para a tão desejada eleição, a bicicleta ganhou papel de estrela no debate sobre a cidade e quem nela vive. Relembro que gosto de pensar na cidade de Lisboa como um espaço bem mais para lá das fronteiras administrativas sob a alçada do gabinete presidencial da Baixa Pombalina. Quase um ano depois do frenesim das ciclovias, do pânico aos capacetes, das promessas partilhadas, o que temos?
Quando o The New York Times deu destaque à produção de energia limpa em Portugal, fê-lo como uma provocação, como um desafio. Nos Estados Unidos da América, país onde as energias sustentáveis contam apenas 5% do total, vir dar como exemplo uma Nação mergulhada numa grave crise estrutural, com índices de desenvolvimento em regressão e números de desemprego que não deixam muita margem ao optimismo, mas que mesmo assim conseguiu um feito numa área tão relevante como a produção de energia, foi visto também como um abanão da consciência do uncle Sam.
Se os decididos governantes conseguem ser exemplares na área da produção energética, porque são tão incompetentes a resolver os problemas do gasto? A maior factura, desequilibradora da balança externa, é a energética e paga-se pelo que gastamos para movermos o nosso rabo gordo dum lado para o outro, leia-se de e para o trabalho. E é aqui que a nossa amiga bicicleta poderia entrar como verdadeira estrela da companhia. Não que seja ela a solução, sequer uma solução para toda a gente, já que é muito mais fácil, por exemplo, sentarmos o rabo gordo dentro dum autocarro que em cima dum selim. Mas a regulação da cidade, no bom sentido, continua a ser um objectivo adiado.
Não será por acaso que no recente estudo European Green City Index, Lisboa -a “pequena” Lisboa alfacinha- aparece nos dez primeiros lugares apenas no item “Energia”, surgindo em décimo oitavo da geral, num universo de 30 Capitais Europeias! Quantas bicicletas serão precisas mais, e respectivamente menos carros, nas ruas da grande cidade para subirmos no top 30? Nesta corrida, onde tanto temos a ganhar, muito mais que medalhas, não somos capa de jornal. Aliás, os periódicos de cá ligam quase nada a estas questões e os de lá não encontram por aqui razões exemplares. Quem tem a sorte de ir conhecendo um pouco deste mundo, sabe bem como estas matérias estão a ser tratadas por urbes que, apesar de não serem capitais, se assemelham muito à Lisboa do Tejo.
Copenhaga foi palco da grande conferência pela bicicleta, a primeira global, a mais participada de sempre! Desde associações locais a patrões dos maiores fabricantes de bicicletas, todos quiseram marcar presença. Do que lá se disse e ouviu chegou eco à Europa, EUA, América do Sul, Oceania, até na Ásia onde a bicicleta tem o seu habitat mais favorável. E por cá? Bem, adiante…
A próxima edição da Velo-City é em Março de 2011 e mesmo aqui ao lado, em Sevilha. Será que se vai poder ouvir falar Português com sotaque europeu na Capital Andaluza? Sem verdadeira mobilização, organização, objectivos e estratégia, continuaremos a ser alguns pedaladores, mais ou menos militantes, solitários e à margem dos destinos da cidade, das cidades. Silenciosos e nada incómodos andaremos por aqui, até que os senhores do costume vejam em “nós” um nicho interessante onde vir pescar uns votos.