A condição fundamental para acontecer a tão necessária transformação na cidade de Lisboa no que à mobilidade diz respeito, é vontade política. E digo Lisboa como posso dizer qualquer outra cidade já que a transformação necessária que por aqui é costumeiro falar-se, faz falta no país como um todo, logo também nas suas partes. A vontade política é a que permitirá que a questão da mobilidade seja olhada como prioritária, que a necessidade da transformação seja entendida como urgente. Que se coordenem gabinetes, pensamento, recursos e actos. Mas mais importante, é a vontade política que permitirá que se construa um discurso capaz de resistir aos velhos do Restelo conquistando os demais cidadãos da, provando-lhes que a transformação é benéfica para a cidade e melhora efectivamente a qualidade de vida de quem a habita e visita. Tomemos o exemplo da capital. A actual presidência manifestou vontade política para alterar o estado das coisas ainda antes de ocuparem os gabinete. Existia a tal condição fundamental, portanto poder-se-ia dizer que a transformação estava em marcha.
A revisão dos valores assumidos nas questões da mobilidade está a acontecer um pouco por todo o mundo. Muitas cidades e Estados empreendem neste momento projectos que lidam com problemas particulares e com outros mais globais, mas em todos a grande novidade é serem pensados desde a perspectiva do olhar e à velocidade do andar do peão. A humanização das cidades não é mais que a devolução ao peão do lugar centrar que lhe é devido por direito. Esta abordagem leva à redução da área dedicada ao trânsito automóvel e da velocidade de circulação; gestão do estacionamento -quando não é por e simplesmente abolido; desactivação dos sentidos únicos; incremento dos sistemas colectivos de transporte pelo aumento da oferta e integração do sistema tarifário; aumento das zonas pedonais seja para circulação ou para descanso; construção de infraestruturas para a circulação em segurança de bicicletas; remoção ou adaptação de barreiras à circulação de pessoas. Em traços gerais tudo passa um pouco por implementar este tipo de soluções, independentemente do estádio de desenvolvimento em que a cidades se encontram. A bicicleta ganha particular importância por ser o meio de transporte que permite verdadeira e total liberdade de movimentos no espaço urbano, solucionando não só o problema do utilizador como também o problema dos à sua volta.
Não é tarefa fácil enfrentar situações estabelecidas desde tempos imemoriais, poderes seculares, pensamentos encrostados. A batalha pela mudança é sempre difícil e por isso requer ser bem planeada. É necessário convencer os visados que as alterações serão positivas para os próprios para lhes ganhar o apoio e tentar conquistar os cépticos. Há que libertar muita informação. Monitorizar cada alteração, fazer ajustes à medida que as medidas forem sendo transpostas para o terreno, ir construindo como se fosse um Lego, peça a peça, cada uma em cima da outra, bem encaixada, para que vá fazendo sentido na cabeça de quem vê, de quem vota. Voltamos ao exemplo da capital. Em Lisboa os transportes públicas estão mais caros e oferecem pior serviço. Continua a ser fácil estacionar sem pagar, com muitas zonas sem parquímetro e tolerância para com o estacionamento abusivo e ilegal. Não há fiscalização de limite de velocidade para além dos risíveis radares. Continuam a ser projectados parques de estacionamento em zonas nobres e bem servidas de TP. As cicl
ovias contribuem para a redução dos passeios oferecendo ainda por cima, uma muito melhor superfície para andar a pé que a mal tratada calçada portuguesa. Rede de ciclovias desintegrada e pensada apenas em total de quilómetros -basta ver que a CML contabiliza os trilhos de Monsanto da mesma maneira que os urbanos. Se somarmos a isto uma vereação de candeias às avessas e um presidente sem mão nos boys, temos um quadro dramático que atinge proporções trágicas quando consultamos alguns lugares.
Quando ouço falar na dificuldade que é mudar alguma coisa num cidade como Lisboa e no tempo que estas coisas levam sempre, costumo responder que difícil é mudar em Londres com os seus mais de dez milhões de habitantes, ou em Paris, Melbourne, Curitiba, ou em Sevilha que é a capital da mais pobre região de Espanha e no entanto… Cidades onde a vontade política existe mesmo e não é apenas mais uma peça na básica retórica demagógica que sabe que não se apanham moscas com vinagre. O filme que se segue não é novo mas mantém muita actualidade. Vem de New York, onde nem tudo é Manhattan, mas cujo conservador mayor teve a vontade política e a capacidade de fazer. Sabendo todos do atraso com que os políticos do arco do poder lusitano reagem à realidade, espero que seja visto e ouvido por quem tem responsabilidades e os faça corar de vergonha pelo tempo que andam a empatar, pela falta de tomates para fazer alguma coisa verdadeiramente de jeito!