À medida que a bicicleta se tornou companheira das minhas errâncias, ao contrário do que é voz corrente, começou a ganhar peso. Sim, porque apesar de se dizer que pedalar com regularidade é uma muito boa maneira de perder peso, se até pode ser verdade para o transportado, a transportadora normalmente acaba por ir compensando com umas gramitas ou mesmo uns quilitos acrescentados.
Sempre gostei de pedalar à chuva. Desde os tempos do todo o terreno que o som dos pneus a rolarem pela lama e através das poças de agua me agrada. O ar fica limpo, ou melhor lavado, pela chuva e há uma sensação de frescura em tudo à nossa volta. É bem verdade que quem anda à chuva molha-se e eu fazia tudo
para minimizar a voz popular, pelo que me equipava a preceito. Um eficaz casaco amarelo garantia a secura do tronco embora só vestisse calças se o frio fosse demasiado, quando não, iria de calções. O casaco ainda o uso agora em trajetos exclusivamente urbanos mas tanto as calças como os calções estão atirados para o fundo duma mala donde não tenho ideia quando sairão…
Em todo o tempo que uso a bicicleta como meio de transporte apanhei apenas uma carga de agua que me deixou molhado até… (imaginem onde). O resto foram pequenas molhas enquanto não cheguei a abrigo de ocasião. Ter um bom casaco e umas calças verdadeiramente impermeáveis para os dias em que não há como esperar que passe, é a solução para desfrutar dum bom dia de chuva. Porém, mesmo quando já parou de cair chuva a agua acumulada no chão continua a molhar o ciclista, com a agravante de não só o molhar mas sobretudo de o sujar. Se a que cai vem limpa, já da que sobe não se pode dizer o mesmo. Pelo que o primeiro acessório que engordou a montada foi um par de guarda-lamas.
A primeira vez que o entardecer me apanhou a meio caminho, vivia então na cidade do Porto, a coisa ficou resolvida com meia dúzia de tostões trocados por um conjunto de luzes a pilhas. A dianteira parecia uma lanterna de brincar e a traseira era de prender ao espigão do selim. Cada uma podia ser ligada em variadíssimos modos de pisca-pisca o que transformava a viagem num evento bastante psicadélico. Na altura usava-se imenso mas aquilo nunca me convenceu, sobretudo a da frente que mesmo estando acesa em continuo, não iluminava o chão à minha frente. Acabei por manter a traseira mas substitui a da frente por uma cuja função não era exclusivamente dar nas vistas mas também ver o caminho.
Experimentei várias e posso dizer que deitei muito dinheiro fora. Algumas super bem cotadas entregaram a alma ao criador ainda antes das pilhas darem o berro, o que em certa medida justificava o preço. À altura não queria dar por uma luz a pilhas o mesmo que me custaria um conjunto alimentado a dínamo, até porque embora não houvesse muita escolha no mercado local, no global a coisa felizmente estava longe de ser desencorajadora. Então, um dia, lá decidi começar a estudar essa questão dos dínamos laterais e das luzes por eles alimentadas. A primeira opção foi um Luceo e um Arcus da Spanninga. Modelos onde o estilo clássico se alia com linhas mais atuais. Sem entrar em considerações técnicas, que podem ser disseminadas nos lugares do costume, digo apenas que finalmente tinha luz na bicicleta a sério!
Na maioria dos países, porque a bicicleta é um veículo normal de transporte, tudo o que está com ela relacionado, tem regulação legal e carece do cumprimento das normas de segurança e funcionamento como qualquer equipamento, por exemplo, para automóveis. Existem no entanto exigências diferentes nos vários países “do norte”, mas dada a dimensão do mercado alemão, todos os produtos procuram ser aí certificados, o que é uma garantia de qualidade e segurança, digo eu. Posto isto, aqui fica a primeira recomendação: quando considerarem comprar acessórios de iluminação, verifiquem as certificações dos equipamentos. Com o problema da visibilidade resolvido num par de rodas, restava resolver o outro par, o par da coabitante.
Como as noites do Alentejo são mais ciclaveis com o caminho bem iluminado e a segurança deve ser a lanterna do caminho, a coabitante ficou com o par de luzes existente e eu continuei a reunir informação sobre dínamos. Sim porque as pilhas, mesmo as recarregáveis foram rapidamente postas no escuro. Em matéria de dínamos propriamente dito existem algumas opções como os da Axa-Basta e da Nordlicht, este últimos muito afamados mas relativamente mais caros. Os primeiros com versões em conta e com a vantagem de serem facilmente encontrados à venda em kit, junto com os faróis, por preços módicos. Segunda recomendação: estipule um orçamento para gastar em luzes e dínamo. Já agora, e em matéria de preços, convém deixar claro que pode ser necessário comprar alguns acessórios que possibilitem a montagem dos dínamos e as luzes na bicicleta, pelo que a escolha nem sempre é simples.
Por falar em simplicidade da escolha, podemos evidentemente confiar nas lojas e sus chicos mas isto é a deixa para a terceira recomendação: antes de ir ao mercado, reúna toda a informação que conseguir. Por exemplo, sabia que as lâmpadas de LED têm comportamentos diferentes das lâmpadas incandescentes ou das de halogeno? Eu não sabia e fiquei a saber porque tive que substituir um dínamo numa bicicleta antiga. Bom, mas isso é outra história. A capacidade dum dínamo fornecer energia bastante, mesmo a baixa velocidade, de forma à luz produzida ser suficiente é hoje muito facilitada pelos LED. O minha bicicleta ganhou então um conjunto da Busch & Müller que é sem dúvida superior ao da Spanninga. Escolhi o Dimotec 6 porque tem baixo ruído e permite facilmente trocar o disco de contacto com o pneu, consoante a estação do ano em que estamos, o botão de acionamento é muito prático e tem ajuste fino de distância à roda.
À frente montei um Lumotec Fly Plus que vale cada pedalada! A qualidade do foco é fantástica e em condições de escuridão absoluta permite-nos manter uma velocidade estável, pois a luz alcança com qualidade uns bons 15 metros, além de ser regulável on the move em três posições. O segredo do seu desempenho é o espelho refletor exclusivo da marca, que concentra o foco na zona da estrada que interessa manter iluminada. É caso para dizer só visto! Para farolim traseiro optei pelo D-Toplight XS Plus. Um LED de
alto rendimento ladeado por refletores a sério que aumentam a visibilidade quando nele incidem os faróis de quem nos persegue. Montei esta luz na grade bagageira um pouco recuada de maneira a salvaguardar eventuais batidas ou rapadelas no transporte da bicicleta.
Ambas as luzes são acionadas instantaneamente às primeiras pedaladas e têm um condensador que as mantém acesas bem mais que o tempo que paramos num semáforo. As vantagens das pilhas em relação aos dínamos tem que ver sobretudo com o facto dos dínamos, pelo efeito de tração, retirarem rendimento à pedalada, o que é verdade mas displicente para quem como eu, é adepto do slow bicycle. Até porque o recurso à iluminação da bicicleta representa pouco do tempo que passo a pedalar, mas agora quando preciso tenho sempre “pilhas”! Para todo este material, e mais uma vez depois de procurar no mercado local, acabei por encomendar tudo via eBay.
Existe outro tipo de dínamos que estão incluídos nos cubo da roda da frente. Estes apresentam dois tipos de problemas, o primeiro é que ou se substitui a roda toda ou se tem que a refazer para instalar o cubo, segundo apresentam sempre alguma resistência mesmo quando em modo desligado. São no entanto mais duradouros e têm muito melhor rendimento energético podendo usar-se luzes com sensor de luminosidade ambiente e
deteção e movimento. A Shimano, Sram e Sturney-Archer fabricam dínamos muito interessantes por preços que podem ser convidativos para quem estiver a fim dum projeto mais trabalhoso. São os mais populares nas bicicletas montadas com luzes de fábrica e cada vez mais comuns nas bicicletas urbanas. Podem inclusive juntar no cubo além do dínamo também um travão de tambor com as vantagens inerentes em termos de manutenção. A estes conto voltar aqui em breve.
Pedalar a qualquer hora do dia e sob todo o tipo de condições meteorológicas requer acessórios próprios. No que às luzes diz respeito creio serem as de dínamo que mais se adaptam à utilização urbana e o investimento que requerem não inclui nem pilhas nem conta da EDP. Embora a Reelight tenha lançado recentemente modelos de luzes fixa sem fricção, o seu desempenho ainda deixa bastante a desejar. Cruzo-me com muitos ciclistas sem qualquer tipo de luz a pedalarem no meio do trânsito desafiando a sorte e a segurança. Outros há que usam as irritantes luzes pisca-pisca que apenas assinalam a presença da bicicleta mas que em certas condições tornam difícil aferir da real proximidade do ciclista. Existem bastantes soluções de dínamo donde se pode escolher tendo em conta o orçamento e a bicicleta e os ganhos de segurança e conforto são significativos. Realmente não vale a pena ficar aí no escuro.
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