A crise das dividas e o problema do financiamento das economias, públicas e privadas, em que nos mergulharam não é mais que o resultado do normal funcionamento da especulação dos mercados, instituições bancárias internacionais com recursos a fundos de diferentes proveniências, em busca da maximização do lucro e obedecendo às regras da economia neoliberal. Podemos e devemos detalhar a situação económica actual em busca da resolução dos problemas, mas enquanto não admitirmos que é no sistema económico vigente que está a origem dos problemas, não nos aproximaremos da solução.
A dependência externa nacional passa sobretudo pela importação de combustíveis. Podemos, se essa fosse a vontade de quem define as políticas estratégicas, passar a produzir mais comida, mais vestuário. Portugal já foi praticamente independente em aço e vêm agora felicíssimos anunciar que passaremos a exportar minério em bruto, continuando assim como país exportador de produtos de baixo valor acrescentado. Temos mar com fartura que facilmente nos alimentaria de peixe. Temos clima e paisagem para sermos um destino turístico de excelência. Tudo isto apenas está dependente do Governo ordenar políticas de interesse nacional.
Mas não pode o Governo declarar que há petróleo no Beato e resolver a dependência energética nacional. Portugal precisa urgentemente duma estratégia de transportes que dê prioridade ao transporte colectivo, à linha férrea na média e longa distância e ao metro e autocarros nos circuitos urbanos. Necessita de requalificar os vários centros das cidades e não apenas a parte histórica, com acessos pedonais de forma a dinamizar o comércio local e a poupança de combustível. Além de permitir melhor qualidade para o tráfego pedonal, facilitará a utilização da bicicleta com comprovados benefícios para a saúde dos cidadãos.
Estas opções são tão urgentes quanto sabemos hoje o que está a ser feito noutras latitudes para enfrentar problemas semelhantes e conhecemos o que foi feito há décadas em países que não têm hoje os problemas que nós enfrentamos. O que choca é ver diariamente os governantes apenas preocupados em aprofundar as políticas neoliberais que nos conduziram ao presente. Insistirem em penalizar ainda mais o factor trabalho, a destruírem a capacidade dinamizadora da classe média, a empobrecerem criminosamente os pensionistas, a destruírem direitos obtidos com a revolução que derrubou o regime fascista. O que se ouve todos os santos dias é a intenção de desinvestir no ensino, na saúde, nos transportes e fragilizar ainda mais quem vive do trabalho. Ou eu estou enganado?
O que hoje aqui me trouxe relaciona este presente de incerteza e muita revolta com a necessidade duma verdadeira transformação do paradigma na mobilidade. Enfrentamos um grave problema de dependência energética e sofremos uma mortandade recorde nas estradas. Dois problemas comuns com a situação vivida nos Países Baixos na década de setenta do século passado. Muito do que é hoje o país das tulipas e dos tamancos em matéria de mobilidade urbana, está retratado no filme que se mostra abaixo. Todas as notícias que nos chegam da Grécia confirmam os terríveis resultados das receitas que nos estão a aplicar cá. Só não percebo é porque há tamanha resistência a aplicar outras receitas cujos resultados são igualmente conhecidos!