Arquivo de chic

A TRIBO DO CALENDÁRIO

Posted in cycle of sighns with tags , , , on 20 de Outubro de 2013 by Humberto

bicicleta-indioSair por aí pedalando é ainda uma excentricidade para a grande maioria das pessoas que têm neste rectângulo o, por enquanto, lugar de poiso. Não é à toa que se ouvem barboseiras verdadeiramente admiráveis ou que se continuam a espalhar ciclóvias por Lisboa como quem constrói um cardápio de como aprender fazendo.

Hoje não vou por aí. Hoje vou deixar de lado as analogias de começar-a-construir-a-casa-pelo-telhado ou e-se-pavimentassem-as-ruas-primeiro ou o desesperante e-se-ordenassem-o-estacionamento, etc, etc, etc. Hoje vou-me ficar por uma coisa mais prosaica e e refrescante, particularmente para quem começa uma semana sem o totoloto no bolso nem ao menos a notícia do pedido de asilo de Passos, Machete, Cavaco & Co lá pelas terras do Panamá.

São engraçadas as tribos da bicicleta. Todas. Ainda não me percebi bem a minha mas gosto bué do pessoal que leva a coisa a rigor. Como somos poucos, mesmo que cada vez mais mas ainda poucachinhos, gostamos de nos identificar com aqueles que comungam dum gosto semelhante ao nosso, por exemplo por um certo tipo de bicla. Somos até capazes de adoptar uma determinada e muito a preceito indumentária, como se dum traje se tratasse. Adoptamos comportamentos de clã, do tipo só cumprimentamos o pessoal que tenha uma bicicleta com campainha ou os que tenham suspensão traseira.

Acho divertido, a sério que acho, sem pedantismos. Somos até capazes de elaborar filosoficamente sobre as vantagens para a defesa causa inerentes à militância numa e não noutra tribo. É ou não é? Os chics sabem lá como é que se promove a utilização da bicicleta ou parar num semáforo praquê? Ando a pensar em tatuar uma pedaleira na… Ui!

Enfim, também não é bem por aí que quero ir hoje e como a segunda-feira está quase a dar volta ao relógio, fica aqui em baixo uma razão para pormos em causa o universal, embora nunca provado, antagonismo entre os adeptos da fibra que tornou o senhor Du Pond ainda mais rico e os que preferem ensopar de suor o melhor tweed escocês. E já que o 2013 se encaminha para os finalmentes, podem sempre começar a escolher o calendário.

Advertisement

JORNALISTAS CYCLE CHIC

Posted in cycle of sighns with tags , , , on 22 de Abril de 2012 by Humberto

No sábado 19 de Maio poderemos de novo celebrar a bicicleta com hora marcada e todos juntos. Os eventos Lisboa Cycle Chic cumprem o destino de se afirmarem como uma marca também da cultura ciclista urbana alfacinha. Lisboa merece dias assim. As nossas cidades merecem bicicletas. E nós merecemos celebrar uma opção de futuro.

A bicicleta na cidade está aí, por todo o lado a pedalar mais a cada dia, a aparecer mais a cada curva. Apesar das ciclovias vazias e dos autismo dos senhores da burocracia, as ruas são mais felizes de cada vez que um par de rodas as cruzam. De cada vez que uma criança vê, da janela do carro, um adulto numa bicicleta a rua também é mais dela.

Na esplanada solarenga já todos levantámos o olhar para acompanhar a passagem duma bicicleta, abstraído-nos da conversa impressa. Mesmo que as palavras nos falem de bicicletas, o olhar é puxado para quem segue suavemente, a deslizar. A experiência de pedalar é inultrapassável, e o jornalista nunca nos poderá prender o olhar duma bicicleta ali, a ir.

Sempre que leio um texto -e ultimamente tenho lido muitos, sobre a nova bicicleta, vejo um jornalista à conversa na porta duma loja, à conversa num telemóvel, sentado numa mesa com um gravador de permeio. Ali está o jornalista e do outro lado ali está o mundo. Mas tem de ser assim? E se a montanha descesse de bicicleta?

Recentemente a ECF publicou um texto com o sugestivo título “How Do You Get Journalists to Love Cycling?”. Que tal sentarmos os jornalistas em bicicletas e levá-los de passeio? Todos chiques, alegres, receosos, corrompidos? Que tal convidarmos os jornalistas todos desta país (ainda por cima são cada vez menos!) para irem pedalar no sábado 19 de Maio pelas míticas 7 maravilhosas colinas de Lisboa? Que tal levarmos os jornalistas pela mão para uma caçada ao Tritão?

Pois daqui proponho à Federação e ao Miguel, parceiros neste passeio, que tratem de enviar às redacções convites para que os seus enviados participem no 2º (que na verdade é o terceiro mas acho que o Miguel quer esquecer um dos outros e razões até terá) passeio Lisboa Cycle Chic montados em bicicletas. E que se os rapazes não tiveram uma bicicleta lá no jornal, na dispensa da rádio ou no parque dos carros da televisão, a organização terá à disposição dos profissionais da informação muitas para emprestar.

Assim os moços e as moças poderão escrever sobre selins com o rabo calejado por um. Poderão reportar sobre o pedal e sentir a dor no gémeo. Escreverão letras torneadas pelo girar da roda, ao som das campainhas, com o cheiro daquela mistura de adrenalina e suor que nos cobre os corpos quando fazemos algo de que tanto gostamos. Assim de certeza que, quando a bicicleta passar pela esplanada, levantaremos o olhar dum texto com mais paixão.

AS MODAS DA BICICLETA

Posted in cycle of sighns with tags , , , , , on 26 de Março de 2012 by Humberto

A bicicleta vai de moda em popa. Está in que é como quem diz é bem. É bem andar de bicicleta, é bem dizer que se anda, é bem falar da bicicleta. À medida que se vai implantando de novo no dia-a-dia duma certa urbanidade, torna-se mais apetecível e monta uma escala de valores e relações à sua volta e dos que a usam. É mais transversal que outras modas como o skate ou o surf, e mais barata que a das motos. Tem adeptos novos e não tão novos, ricos e remediados, elas e eles, à esquerda e à direita, de tweed e de lycra, em NY e em Xangai, Lisboa e Bogotá.

É chic! E chic no original quer dizer sexy, uma mistura de sensualidade com sexualidade. Quem põe a bicicleta no altar da moda, pinta-lhe os lábios, desce-lhe o decote e rasga-lhe rachas nas sais. Da mesma maneira que o faz quando costura peças de roupa da moda. Pode parecer estranho, mas Copenhaga não é uma cidade habitada quase exclusivamente por mulheres jovens, altas, bonitas e ciclistas. Essa é uma imagem da moda da bicicleta exportada tão bem mas, como todas as imagens da moda, é apenas uma metáfora. E que boa metáfora!

A Notícias Magazine número 1035 deu à estampa página e tal sob o título “A moda das Bicicletas”. Só não percebo a razão do plural já que só lá pode estar por engano, visto que apenas um par de rodas ilustra a reportagem: uma solitária linda e apetecível bicicleta da avozinha. E moda porquê? Por causa duma mão cheia de retratos em formato pequeno de gente-que-vai-a-todas? Actores, cantores & políticos, flagrados enquanto pedalavam? Poupem-me… E o texto com três parágrafos a assinalar 45 anos da história do velocípede no… século XIX? Estranha noção de actualidade. Para completar o quadro fashion lá estão quatro objectos relacionados com a bicicleta com o quanto & onde, a remeterem para o sempre tão desejado consumo a pedal. Não fora a oportuna referência ao jornal Pedal, agora que saiu o número dois, e a incongruência seria total.

Já nem digo que acho fantástico que a austeridade portuguesa, aplicada à bicicleta, dê em tamanha pobreza mas nem a Fátima Lopes, que como se sabe é rapariga poupadinha quando toca a desenhar roupa e ainda mais nos trapinhos que veste, tem uma visão tão limitadinha de a Moda. Por muito que vir e revir a revista, não encontro glamour nenhum numa multi-ferramenta de bolso nem no mini-Sarkozi, embora me surjam algumas ideias interessantes sobre o que fazer a um com o outro… Já sei que é sempre bom que se vá falando e que mais vale pouco que nada e a lenga-lenga do pobrezinho-e-mal-agradecido mas, ó gente, atão isto é que é a moda das bicicletas???

Reconhecendo-se que há uma moda das bicicletas então mostrem-se bicicletas da moda, mostrem-se objectos em voga, mostrem-se as tendências do ciclismo urbano e do desportivo se for esse o caso e se é que sabem as diferenças. Não me precisam de mostrar mais uma vez a mesma fotografia do Brad Bitt para falar da moda das bicicletas. Será que não vêem que é repetitivo, que estão fartos de mostrar famosos de ocasião a pedalarem ocasionalmente? Quanto tempo é que NM vai estar agora sem voltar ao tema das bicicletas? Por isso é que me custa o tempo que se perde e o papel que se gasta de forma tão inconsequente. Eu não sou mal agradecido, sou é um nadinha exigente sobretudo com gente que não sabe nada para além de fazer uns quantos telefonemas e arranjar umas fotografias para um “oh-tão-giro-compra-compra”.

E estava eu neste inquieto cogitar e a abanar a cabecinha um tom reprovador, quanto ao virar a página da revista aparece a Fátima Lopes. Agente a falar nela e ela aqui à coca, de bracitos cruzados e até muito vestidinha. A revista quis saber que três objectos ajudam a designer a ordenar o agitado quotidiano. A saber: um telemóvel que a mantém sempre ligada ao mundo; um imprescindível computador muito mais rápido a desenhar que o lápis; um automóvel, esse “objecto de primeira necessidade”, sinónimo de liberdade de movimentos e independência. E eu imagino logo a Fátima Lopes -que é moça inspiradora de imaginações descuidadas, num escaldante vestido escarlate, a acelerar pelo Bairro Alto o seu intrépido Mercedes-Benz, como naqueles anúncios a carros onde as ruas das cidades são sempre desertas, onde nunca há engarrafamentos. Onde somos sempre livres e felizes.

Está na moda dizer-se que a bicicleta está na moda, mesmo que não se saiba bem porquê, da mesma maneira que a Fatinha julga que o carrito dela lhe dá total liberdade. Como é que uma pessoa, ao mesmo tempo que admite total dependência do automóvel, afirma que esse mesmo objecto lhe dá liberdade? Liberdade teria a estilista se não dependesse do carro para se deslocar na cidade e pudesse fazer como faz a Vivienne Westwood que usa a bicicleta no agitado quotidiano londrino. E o que ganharia Lisboa com muitas alfacinhas a pedalar colina acima, colina a baixo embrulhadinhas pela FL! Conheço um rapaz que não se importava nada de registar isso para partilhar e mais tarde recordar. E não estou a falar de mim..

Ia a Fátima a Londres e levava com ela, nem que fosse numa viagem de estudo virtual, a malta da NM para verem como é que, em vez de andar atrás de modas, se faz moda. Aos senhores do DN e JN não lhes daria muito trabalho e poderia ser que tivessem umas ideias. Daqui dos altos desta tribuna lhes grito “dêem uma vista de olhos às páginas do liberal The Guardian e às do conservador The Times e aprendam como se pode tratar a bicicleta de forma jornalística, às vezes mais a sério, outras mais light, com mais ou menos decote mas sempre com critério e com respeito por quem os lê. Nem que seja apenas por moda“.

PURA ELEGÂNCIA

Posted in cycle of sighns with tags , on 24 de Março de 2012 by Humberto

A bicicleta é!

PARA QUEM ACREDITA NO PAPAI NOEL

Posted in cycle of sighns with tags , on 24 de Dezembro de 2011 by Humberto

Há um lado provocatório quando alguém escolhe a bicicleta na cidade. Optar por um meio de transporte que desafia praticamente todos os conceitos assimilados por qualquer cidadão mais ou menos cosmopolita, transporta -literalmente- uma grande dose de provocação.

A bicicleta é dogmática, democrática, global, conflituosa, verde, demagógica, egoísta, divertida, feminina e masculina, sensual. A bicicleta é estas e muitas mais coisas. É usada como adereço ou veículo de publicidade. Hoje em dia aparece-nos um pouco por todo o lado e fica sempre bem na fotografia.

As imagens que se seguem podem ferir a sensibilidade de alguns dos prezados leitores.

Festas Felizes se possível, a pedalar!

VIVA O FIM-DE-SEMANA! v.1.2

Posted in cycle of sighns with tags , , , , on 3 de Julho de 2011 by Humberto

De repente e num só fim de semana, aconteceram em Lisboa três iniciativas mobilizadores de ciclistas. A azafama começou no sábado com o Lisbon Cycle Chic versão 1.2, despertou o domingo no Lisbon Bike Tour 2011 e terminou à tarde no 1º Naked Bike Ride. Apetece perguntar que seria dos ciclistas alfacinhas se não soubessem inglês? Mas adiante que as questões de idioma são meras picuinhices.

Todo o país tomou conhecimento sobre as diferentes passeatas por via das abundantes reportagens televisivas, radiofónicas e impressas. Mas será que o país foi devidamente informado? Será que os três acontecimentos originaram uma reflexão minimamente séria sobre o que ocorreu neste mui sui generis último fim de semana de Junho? Não me parece. Seria pedir demasiado a uma classe automobilizada e desmobilizada de causas.

Tanto o LCC como o NBR são eventos que pela dimensão e adesão, e pelos meios logísticos envolvidos, não se podem comparar ao LBT. Enquanto em cada dos dois primeiros estiveram cerca de 200 bicicletas, no segundo participaram para cima de seis mil pessoas. Olhando as fotografias de todos os eventos, o único fator comum é a bicicleta, embora nas de domingo à tarde outro atrativo motivo de interesse rivalizasse com os pares de rodas. Sabe bem ver que a Federação de Cicloturismo se associa aos eventos amadores mas é triste que a organização do Tour da ponte deixe de fora quem mais e melhor pugna pela bicicleta no nosso país.

Se ao chic se associaram duas lojas ativistas e uma marca dentro do espírito, já ao nu nem um vendedor de havaianas ou designer de biquínis quis despir o seu nome de preconceitos. Por outro lado, no outro lado do rio, até um fabricante de automóveis se associou a outras grandes empresas nacionais e várias mais pequenas, mais as autarquias de Lisboa e Loures e, imagine-se, a Associação Portuguesa de Surdos! Só parceiros de media foram quatro incluindo a rádio e televisão públicas e um jornal de negócios…

O LBT é um acontecimento puramente comercial, onde a troco de umas bicicletas de supermercado -pagas pelos inscritos! uma série de entidades se promovem, sob a capa de nos consciencializar para a necessidade dum futuro melhor. Pragmaticamente a verdade é que se muita daquela gente que, enfiada dentro de autocarros fez um domingo mais poluído, nunca dará uso à bicicleta que leva para casa ao ponto de perceber que aquilo não vale um chinelo, também é verdade que prova que com o incentivo correto milhares de pessoas enfiam um capacete horrível e ridiculamente verde na cabeça e pagam para atravessar o Tejo de bicicleta. Mais de seis mil pessoas foram ciclistas por breves momentos, gosto de acreditar que alguns ganharam o bichinho…

Quem por aqui vai passando saberá da minha opinião sobre a importação do conceito cycle chic. Não há evidentemente em Lisboa, ou noutra cidade portuguesa, matéria prima suficiente para alimentar um blog de fotografias que faças jus ao espírito da coisa. O Miguel tem no entanto feito um trabalho hercúleo na dinamização do chic virtual e do chique concreto e o encontro do Campo Pequeno é disso prova. Claro que o facto de aparecerem uns crominhos de joelheiras e cotoveleiras ou umas betetes xispête-ó só pode ter que ver com a conhecida incompatibilidade dos portugueses com o inglês técnico.

A maioria dos jornalistas, porque não percebem como se pode andar a pedalar só porque sim às voltas em Lisboa, a não ser para dar nas vistas e sair de casa mascarado, logo reparam que afinal só havia um ciclista de sombrinha e uma ciclista de chapéu a la Côte d’Azure. E por aqui se fica a possibilidade de falarem e escreverem sobre os mitos das colinas e do esforço para as subir, do medo do trânsito automóvel, das aberrantes ciclovias do senhor Zé, ou até e simplesmente de como pode ser normal andar de bicicleta na cidade, apenas com a roupa do dia a dia! Cheira-me que com a precarização nos medium e a diminuição geral de rendimentos de quem vive apenas do trabalho, a classe jornalística será das que mais depressa porá os pés nos pedais… mas isso é outra história.

Arrisco-me a dizer que o LCC é uma excelente oportunidade para nos encontrarmos espalhados pelos bancos do jardim e estender as bicicletas na relva, e ao sabor dumas imperiais e ao som de amenas cavaqueiras, convivermos também a falar de bicicletas. Talvez o LCC possa ser uma coisa mais informal, sem batedores nem ambulâncias*, em que o prazer esteja na viagem que todos faremos para lá chegar e, porque não, num passeio de 15 minutos à volta dum par de quarteirões em vez de quase uma vintena de quilómetros à moda da Massa Crítica. Para mim isto do chic é uma coisa mais contemplativa, mais na onda do “e na próxima semana vou ser o mais chique de todos!”

Para o fim ficou o último mas que era sem dúvida o mais aguardado dos três passeios. Conhecendo a capacidade interpretativa dos media antevi que a nudez anunciada, mais ou menos efetiva, relegaria para secundaríssimo plano os principais propósitos dos organizadores. Como é evidente não existe uma cidade de qualquer país onde seja possível circular como se veio ao mundo. Lisboa nem nisso é original. A originalidade prende-se com o facto de aqui a polícia se dar ao trabalho de mais uma vez evidenciar ao mundo a tacanhez e o provincianismo dos costumes.

Se todas aquela gente que foi desde o Parque Eduardo VII até à Torre de Belém tivesse mesmo tirado toda a roupa, o que é que a polícia faria? Deteria todos? Distribuiria mantas do exército? Ofereceria preservativos? Carregava a cavalo? Despia as fardas e dançava apenas com os cassetetes na mão? Taparia os olhos dos desprevenidos transeuntes? Que imagem ofereceriam aos turistas os policias? É que para a maioria das pessoas que das beiras dos passeios assistissem ao desfile dos ciclistas nus, a novidade seria a reação das forças da ordem.

Desde que soube da ideia de se organizar um desfile nu em defesa da bicicleta pelas ruas de Lisboa, que achei que a visibilidade do acontecimento ficaria preso aos corpos dos ciclistas e nem reparariam nas bicicletas. Assim de repente só me consigo lembrar da parte debaixo dum biquíni preto e esta nem é a minha cor preferida para usar na praia… Proponho que no próximo Naked Ride se vá apenas vestido com capas de chuva transparente e se transforme a defesa por uma mobilidade sustentável na luta por uma mentalidade sustentada! Ao menos assim poderia ser que os jornalistas falassem das bicicletas na cidade… Que me dizem?

* Acrescento que não houve ambulância no LCC.

Houve foi uma viva argumentação entre alguns ciclistas mais militantes e experientes e um polícia menos habituado às bicicletas e pouco sensível ao espírito de quem em cima delas desfruta da vida.

A autoridade defendeu a obrigatoriedade da presença dum veículo desse tipo, ainda para mais sabendo que o organizador tinha ido de charola, com argumentação meramente formal como aliás lhes é habitual, à autoridade claro.

Num país onde a assistência médica de proximidade é cada vez mais gerida desde uma visão troiquista (não confundir com Trotskista!), é aberrante –to say the least– este tipo de exigências.

NO PRINCÍPIO ERA A BICICLETA

Posted in cycle of sighns with tags , , , , , , , , , on 15 de Maio de 2011 by Humberto

Qual é a essência da bicicleta? Se formos subtraindo peças a uma bicicleta de forma a que fique só o estritamente necessário a que lhe possamos continuar a chamar bicicleta, com que ficamos? Pouco mais que uma par de aros, cerca de meia centena de raios e dois cubos, uma forquilha e uma caixa de direcção mais um guiador e um avanço, um eixo e roda pedaleira, uma par de bielas e respectivos pedais, corrente e carreto, espigão e selim, uma mão cheia de parafusos  e, claro, o quadro. Grande parte do fascínio pelas fixie ou bicicletas de carreto preso, tem que ver com o minimalismo, com a máquina na sua forma elementar, reduzida apenas à essência como que dum perfume se tratasse. Conhecidas também por bicicletas de pista porque são usadas nas provas de ciclismo em circuito fechado, têm geometrias de tal forma agressivas que algumas dão a ideia de serem impossíveis de montar.

Construídas desafiando as leis da física para reduzir o peso ao máximo possível, permitindo ao ciclista mudanças de ritmo e acelerações ao nível dum testarossa. Identificam-se facilmente pela ausência de manetes de travão e guiadores despidos, com todo o seu esplendor cromado à mostra. Verdadeiros icons do ciclismo permitem de forma inigualável a união entre homem e máquina. Quem pretenda dominar um puro sangue deste calibre terá que reaprender todo o conceito de andar de bicicleta. O eixo da roda motriz é fixo fazendo com que a transmissão, pedais-pedaleira-corrente-carreto-roda sejam um só elemento, em que tudo está de tal forma ligado que qualquer que se seja a direcção em que se pedala, a roda girará de acordo, permitindo por isso andar de marcha atrás. Parar nestas bicicletas é muito mais difícil que andar, pois requer uma perfeita coordenação de movimentos de forma a evitar a imobilização repentina da roda e consequente mais que provável descontrolo da máquina! Ver uma perito manobrar uma fixie e apreciar as acrobacias que os melhores conseguem fazer é um espectáculo empolgante.

Se substituirmos o cubo da roda traseira por um normal, ou seja que só quando a corrente o faz girar no sentido dos ponteiros dos relógio é que prende, fazendo evoluir a roda, ficando livre quando se pára de pedalar ou pedalamos ao revés, transformamos uma fixie numa singlespeed. Como se perde o efeito de tracção contínua do pedal, é necessário montar pelo menos um travão. Mesmo escolhendo um modelo de manete pequeno e um travão à roda da frente, na opinião dos puristas é já uma concessão à tecnologia e um luxo desnecessário. Bicicletas usadas sobretudo pelos mensageiros, têm vindo a ganhar adeptos em todo o mundo, entre rapazes e raparigas constituindo um dos mais emblemáticos e carismáticos grupos de ciclistas urbanos nos cinco continentes. Modelos de pista das décadas de 70 e 80 do século passado atingem preços exorbitantes em leilões e há lojas que transformam bicicletas de estrada com 20 e mais anos em fixie e vendem-nas ao preço de modelos topo de gama actuais. Todos os grande fabricante de bicicletas que apresentam nos seus catálogos um ou mais modelos de fixie e há dezenas de pequenos artesãos das bespoke bikes que se especializaram neste enorme nicho de mercado.

Quando usadas como bicicletas de trabalho, os seus pilotos exigem que sejam extremamente fiáveis e seguras, se escolhidas por opção de estilo e usadas de forma utilitária, porque têm menos componentes, mais dinheiro pode ser gasto e cada peça é escolhida criteriosamente. São bicicletas onde encontramos o que de melhor há disponível no mercado e que reflectem no todo e nas partes, o carácter do seu proprietário como nenhuma outra. Vários fabricantes de peças para bicicleta têm estes ciclistas como compradores duma significativa parte dos seus modelos de topo. Há muitos que a eles destinam linhas exclusivas ou adaptadas e há até alguns, não poucos! fabricantes de componentes só para fixie e single. Já para não falar em lojas onde quem perguntar por um desviador é logo olhado com desconfiança… Como muitas destas bicicletas são fruto da transformação e utilização de quadros antigos, com geometrias e especificações mecânicas já não usadas, algumas marcas de material de ciclismo viram aqui uma oportunidade e reapareceram no mercado componentes que vieram possibilitar o ressurgimento de outros modelos e estilos de velocípedes. Bicicletas aparentemente condenadas ao esquecimento por falta de peças, puderam ser recuperados e não é por acaso que há cada vez maior procura por bicicletas vintage.

Casas houve que saíram duma situação de falência e conseguiram voltar a afirmar-se no mercado. A procura é de tal maneira maciça que algumas marcas se vêm a braços com a incapacidade de responder ao mercado. Uma caixa de direcção Chris King e um par de cubos feitos com especificações só encontradas na aviação militar como os Phil Wood, o couro natural do selim Berthoud montado em carris de titânio, um guiador Cinelli recuperado dell’epoca d’oro della pista, são tudo componentes onde se pode facilmente gastar uma ou duas ou até mais centenas de euros. Num tempo em que o maior fabricante mundial de peças introduziu mudanças com comando electrónico nas bicicletas de competição em estrada, no outro extremo verifica-se um regresso às origens e ao aço, onde o plástico não tem lugar e as bicicletas são montadas com a precisão da mais apurada mecânica de relojoaria. Bicicletas que têm cada uma o seu próprio cheiro. O cheiro da paixão!

Agora vou ali dar umas pedaladas e ver se ganho coragem para escrever sobre o desviador traseiro no próximo texto!

SAIA DO ARMÁRIO!

Posted in cycle to work with tags , , , , on 12 de Abril de 2011 by Humberto

Agora que o sol e adjuvante calor, cocktail também identificado comummente e de forma um pouco sectária por bom tempo, se instalou com ar de quem por cá vai ficar, quando cada vez menos dúvidas restam que o preço dos combustíveis poderá vir a fazer mais pelo negócio das bicicletas do que os autarcas barrigudos; agora que o Governo nos entregou à comissão liquidatária do FMI, pode ser que mais de vós, ao por aqui passarem, daqui saiam com vontade de dizer -mas desta vez de verdade- sim, eu consigo!

A receptividade que teve nos meios de informação a criação do grupo de monitores da MUBI, os Bike Buddy, se por um lado denota uma maior atenção ao fenómeno da mobilidade em bicicleta por parte dos media, por outro prova que acções concretas e construtivas têm eco na opinião pública. Quem daqui sair com vontade de ir mais além das palavras, pode contar com esta malta para ir dar umas voltas pela cidade e constatar que o trânsito não é uma besta de sete cabeças. Tem apenas duas ou três.

Qualquer par de rodas perro pode perfeitamente servir para desenferrujar as pernas mas sem dúvida que um pouco de óleo na corrente e um ajuste de travões tornarão menos penoso o exercício e mais proveitosa a jornada. O estado da montada é muito importante mas não é per si determinante. A conjugação de vários factores fará com que a experiência de commuter seja repetida e a mudança de hábitos ocorra. Quero acreditar que o estimado leitor contará com as próximas linhas, que no seguimento dumas outras e de outras um pouco mais usadas pelos tempo, para o ajudar num problema que tem solução.

Respondendo às cinco perguntas formuladas aqui começo por chamar a atenção de que, independentemente das ganas com que começar esta nova aventura, o mais provável é que o tempo faça com que a sua atitude evolua ao sabor da idade, da experiência e de umas quantas mais parcelas adicionadas a esta complicada equação. Quero com isto dizer que mesmo que se sinta um bike ninja nada garante que não esteja brevemente convertido ao slow bike movement ou vice versa. Não sei se o seguinte ditado já foi enunciado mas aqui o deixo: diz-me que bicicleta montas que te direi quem és.

Para quem não esteja habituado a pedalar, poderá ser cansativo usar bicicletas de montanha ou de estrada num ambiente que exige uma atenção maior ao nosso redor. São bicicletas que têm uma posição de condução mais reclinada sopre o guiador. No entanto se a viagem for feita por caminhos acidentados e maus pavimentos, uma btt pode ser um bom compromisso. Da mesma forma, se tivermos de fazer todos os dias vinte ou trinta quilómetros de asfalto a uma velocidade média razoável, uma estradista tem bastantes vantagens.

Existem bicicletas que conjugam conforto na condução, uma postura mais recta do tronco, com alguma capacidade de enfrentar os passeios e pisos de terra e com sistemas de transmissão versáteis. São as bicicletas híbridas, de trekking. Pelo estado das nossas estradas e ruas, pela forma como acabamos a desenhar os nossos percursos com recurso a passeios e a tantos outros obstáculos, pelas velocidades médias que nos é permitido fazer, estas bicicletas são de forma geral a melhor opção. Atenção: de forma geral! São uma boa solução para quem pode comprar uma bicicleta nova. O problema é serem normalmente pouco baratas, para não dizer caras, já que o nível de equipamento é bom.

A distância a pedalar bem como a topografia do percurso que nos propomos a cobrir devem ser levados em conta na escolha da bicicleta. Existe uma relação entre o tamanho da roda pedaleira, a cassete traseira e o diâmetro das rodas da bicicleta. Sem grandes conhecimentos de física ou de mecânica, é fácil de perceber que a amplitude de relações ao nosso dispor tornar-nos-ão mais rápidos em plano ou menos esforçados nas subidas. As bicicletas com mudança no cubo têm menos opções de velocidades mas alguns sistemas cobrem uma gama de relações mais que suficiente para uma utilização urbana, com a vantagem de serem muito mais fiáveis e praticamente não necessitarem de manutenção.

O furo num pneu de bicicleta a caminho do trabalho não é a melhor maneira de começar o dia, se bem que com alguns conhecimentos e os apetrechos adequados tampouco é um bicho de sete cabeças. A escolha acertada de pneus tem a vantagem de reduzir a probabilidade de um azar deste acontecer. Tanto a Continental como a Schwalbe fabricam pneus com camada reforçada na zona de contacto. O agarre em piso molhado e a tracção em pavimentos mais brandos devem fazer parte das características a procurar num pneu. Ao fim e ao cabo são os pneus que nos mantém em contacto com o chão.

Pedalar com uma sacola às costas ou com uma mala de mensageiro a tiracolo não é seguramente tão prático como é fashion. Em matéria de conforto nada chega aos alforges, simplesmente porque não nos pesam nas costas. Tanto os maiores para montar na grade traseira como os mais pequenos levar ao lado da roda da frente, oferecem bolsas interiores ou têm tamanho suficiente para albergarem um computador portátil e o escritório móvel que queira transportar. Os cerca de 20 litros de capacidade permitem ainda levar com facilidade alguma roupa e, caso exista no destino condições para trocar de vestimenta e até tomar um duche retemperador, já que trabalhar fresquinho e lavadinho é melhor que a cheirar a desodorizante, pode tirar bom partido do espaço extra. Como é evidente pode pedalar com a roupa que tem no guarda-fato, mas se trabalhar aprumado e tiver de subir de Algés para Carnaxide, talvez queira reequacionar a questão do chic.

Existem por aí meio abandonadas e tristes belas bicicletas dos anos 80 e 90 do século passado que com algum carinho e jeito se transformam em soberbas companheiras do dia a dia. Se estiver numa de vintage, os sacos para prender ao selim ou na barra do guiador são além de bonitos, bastante resistentes e com a vantagem de ganharam com a passagem do tempo. Qualquer que seja o saco escolhido, arranje espaço para um conjunto de desmonta pneus, dependendo da perícia, uma câmara de ar ou um par de remendos, uma bomba das pequenas, uma ferramenta multi usos e um par de luvas de silicone. Se a bicicleta ficar parada e pouco vigiada previna as tristezas com um muito bom cadeado ou mesmo dois.

Felizmente ainda há quem possa escolher as bicicletas sem constrangimentos de ordem pecuniária, mas para a maioria de nós os tempos avizinham-se duros e implacáveis. Aos poucos vai-se percebendo o que vêm cá os senhores do FMI fazer. À laia de recomendação final, aposte numa máquina que já exista e use os seus recursos financeiros para a adaptar às novas necessidades. Feitas as contas, com uns guarda lamas, umas boas luzes e um dínamo, uma grade e um par de alforges mais uns pneus em condições, qualquer bicicleta de montanha ganha nova alma e não temos de vender a carteira ao diabo. Ajudei?

TWEED RUN LONDON 2011

Posted in cycle photos with tags , , , , on 10 de Abril de 2011 by Humberto

Dia 9 foi dia de Tweed Run na capital inglesa. Aqui estão algumas fotos num rigoroso exclusivo para Portugal deste desfile urbano com uma pitada de estilo.

Bem e muito vestidos, centenas de ciclistas londrinos mantém o que hoje é já uma tradição, uma passeata de gente feliz. A originalidade da ideia é realmente o segredo para o sucesso.

 

EU QUERO IR AO PORTO!

Posted in cycle of sighns with tags , , on 31 de Março de 2011 by Humberto

A expansão europeia pelo mundo fez com que os lugares onde os navegadores acostaram, passavam a ter nos novos mapas nomes que ignoravam totalmente a identidade dos povos que nesses lugares já habitavam. Foi assim que se nomeou a Finlândia, a China ou a Austrália. Isto aconteceu mesmo com os próprios povos que nos vieram receber à praia. Os esquimós no Alasca ou os Índios da América do Norte são disso um exemplo.

O poder colonial inglês embora tenha restituído a maior parte das suas possessões, mantém sob a alçada da coroa muitos desses antigos territórios e sobre outros declarados interesses, ou não estivessem envolvidos em mais uma guerra, sempre em defesa da liberdade de povos claro está, desta vez na Líbia rica em petróleo. De cá levaram (até quando?) o vinho do Porto (que por acaso é de Gaia) e deixaram um O na cidade invicta do qual andamos há que tempos a ver se nos livramos.

Um ministro que deixou a arena política no meio duma monumental vaia conseguiu acrescentar um L ao Algarve, provavelmente porque o português de Pessoa e de Saramago não é grande o suficiente para levar a sua tacanhez de espírito a navegar longe. Mas o homem foi ministro e isso explica muita coisa. Agora que uma rapariga do Porto, ainda para mais uma rapariga chique, faça questão de manter a vogal redonda no nome da sua cidade é que me faz espécie.

É que Mumbai já não é Bombaim, Pequim é Beijing e o Porto nunca foi Oporto! Seja qual for a língua chique que quisermos usar. Mais: um dia Finlândia será só Suomi e a Grécia Hellas, porque é assim que aqueles que lhes podem dar nome, chamam.

Vem isto a propósito dum convite que esta moça lançou para que no dia nove do próximo mês, se juntem às 3 e meia da tarde para pedalar entre a Ribeira e a Foz, com a condição única de irem vestidos a preceito mas nunca de fato de treino. Pois eu proponho que quem tenha uma bicicleta e um fato de treino, vá fazer esse mesmo percurso em protesto contra o O chic do Porto! E assim mostrar que o movimento pela mobilidade sustentável tem muito mais a ganhar se for inclusivo que se for segregacionista.

%d bloggers gostam disto: