Arquivo de biciauto

UM PEQUENO PASSO PARA O HOMEM…

Posted in cycle of sighns with tags , , , , , , , , , , , on 8 de Outubro de 2011 by Humberto

… um grande passo para a bicicleta. Desta forma se poderia resumir o dia de sexta-feira, sete de Setembro de 2011. Por volta da hora do almoço a SIC, embora com o atraso de um dia, transmitiu uma reportagem sobre a bicicleta em Lisboa. A pretexto da entrega duma bicicleta oferecida pela Federação a um bombeiro ciclista e criativo, a peça jornalística abordou -com a profundidade que permite uma peça de televisão mas sem a música dos Queen, o que já é um passo importante- dizia eu que a peça da SIC abordou a questão da bicicleta partilhada em Lisboa que nunca mais sai do papel. Pouco de novo foi adiantado, mesmo assim ficámos a saber que o vereador encarregue deste assunto, o senhor dos parques, jardins & ciclovias, também conhecido pelo Zé, espera ter a solução, que é como quem diz, espera limpar a areia da engrenagem até ao final do ano.

Foi um melhor almoço porque vi a bicicleta regressar à televisão numa abordagem que sobra do trivial da excentricidade costumeira. Miguel Barroso foi um excelente anfitrião e provou que tem pernas, porque dar boleia ao repórter de imagem de serviço na sua xtracycle requer muita entrega à causa, ainda para mais sem ajuda eléctrica. Só foi pena não ter sobrado fôlego para soprar de forma mais veemente o que lhe vai na alma sobre o imbróglio alfacinha! Já vinha o café a caminho para rematar o repasto quando o telefone acordou dum luto triste, para me dar boas notícias: manhã cedo tinha entrado a bicicleta pela porta grande na casa da democracia. A Federação Portuguesa de Cicloturismo e Amantes da Bicicleta assistiu na bancada dos convidados à apresentação de duas propostas de resolução, PPD/PSD e CDS/PP, e de dois projectos Lei, um do BE e outro do PEV, que recuperam no essencial as propostas já feitas na anterior legislatura. Por sugestão do PEV as propostas baixaram à comissão sem votadação com o compromisso numa solução consensual a todos os grupos parlamentares.

É exactamente este consenso que faria notícia, fosse este assunto parangonas na imprensa. Independentemente das diferenças ideológicas entre as seis forças políticas representadas na AR, existem hoje condições verdadeiras para que algo mude sem que fique tudo na mesma. Tanto o Bloco como Os Verdes mantém o compromisso para com a comunidade ciclista assumido em anteriores propostas. Os centristas assumem no Parlamento o que tinham prometido na campanha, nomeadamente num documento que enviaram após solicitação da Federação. O PSD, pela mão e voz dum deputado ciclista convicto, sócio da FPCUB e membro do Conselho Consultivo para a Mobilidade e do Biciauto, Pedro Roque de Oliveira, leu um texto consentâneo com as suas responsabilidades uma vez ser o seu, o Partido que sustenta o Governo. O PS, embora não tenha feito qualquer proposta nem guarde um passado feliz enquanto Governo, mostrou-se disponível para o tal consenso na discussão em Comissão da Especialidade.

Foi realmente um dia feliz para a bicicleta em Portugal, um dia que reacende a esperança de que algo vai finalmente ser feito. Uma manhã que nos faz acreditar que valeu a pena os esforços da Direcção da Federação no seu trabalho incansável de procurar apoios, abrir horizontes, promover este consenso que parece agora estar ali reunido à mesa da tal comissão. Mas é também um dia que exige de nós um brinde ao muito que há por fazer! A alteração do Código da Estrada não é a panaceia que corrigirá a anarquia rodoviária. A estipulação de todas as regras sobre a construção de ciclóvias e demais estruturas para peões e bicicletas não vai resolver a incapacidade inata da maioria dos autarcas automobilizados. Os senhores Barbosas estão por todo o lado e pensar que não entram no Parlamento é menosprezar o inimigo, primeiro passo para a derrota certa!

Mais importante que a bicicleta é quem pedala nela. E nela pedalam pessoas que perdem diariamente qualidade de vida. Diariamente nos apresentam um futuro onde não cabemos como seres humanos inteiros, um futuro sem direitos nem dinheiro, onde a sobrevivência será um luxo. O neoliberalismo galopante empurra os povos para a miséria a vemo-nos gregos ao espelho das notícias. Infelizmente não será a bicicleta que fará a revolução necessária, mas como prova a intenção de consenso na AR, é a vontade dos homens e a sua acção transformadora que pode mudar o rumo das coisas. Sem dúvida que seguirei o caminho mais feliz, farei girar os pedais mais confiante, olharei para o simplycommuting com, permitam-me a falta de modéstia, mais vontade, em consequências dum almoço bem acompanhado. Mas convém lembrar sempre que a única maneira de não cair é manter o equilíbrio, continuando a pedalar. Uma revolução de cada vez, uma volta dos pedais a cada passo.

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BICIAUTO, JUNTAR O IMPOSSÍVEL?

Posted in cycle to know with tags , , , , on 3 de Maio de 2011 by Humberto

A opinião que cada ciclista tem sobre a aventura de pedalar na cidade, é influenciada por alguns fatores comuns a todos eles. O estado das vias que usa e o comportamento dos automobilistas são o que maior impressão causa na nossa memória. Se os obstáculos no caminho podem ser relativizados pela versatilidade da montada, já o confronto com os mamutes de aço e seus domadores é de mais difícil gestão. Os automobilistas são os dominadores das estradas, ruas, praças, largos e de tudo em redor! Quem com eles tem de disputar o espaço sabe o quão ingrata é tantas vezes essa pretensão.

Veículos mais ou menos pesados, táxis, autocarros, motorizadas são tudo objetos tripulados que circulam quase sempre em excesso de velocidade e sempre, repito: sempre em velocidade excessiva. O diferencial de velocidade entre os veículos a motor e as bicicletas na mesma via nunca é inferior ao dobro e atinge facilmente o quadruplo ou mesmo o quíntuplo. Por aqui é fácil perceber os receios e as renitências de tantas pessoas em experimentar a alternativa que a bicicleta oferece. O sentimento de falsa segurança que se obtém ao volante é inversamente sentido por quem se põe por detrás dum guiador.

Sabemos que a segurança dos ciclistas aumenta proporcionalmente com o número de bicicletas em circulação e isto deve-se a várias razões, mas também sabemos que este tipo de conclusões são tiradas pela análise de dados recolhidos em realidades muito diferentes da nossa. Existe uma imensa impunidade nas estradas portuguesas a par duma verdadeira anarquia de comportamentos. Todos os condutores têm relativo receio de serem apanhados em infração mas é geral o sentimento de que as autoridades agem por “caça à multa” e não com carácter preventivo e a força da lei está longe de ser omnipresente.

Além do mais a infraestrutura é deficitária. São ridículos os radares fixos instalados em Lisboa e absurda a gestão de velocidade na Marginal da Linha de Cascais. Não existem câmaras em nenhum semáforo com sensor de velocidade e, embora esteja demonstrado que as “bandas sonoras” acarretam perigos penalizando também o condutor que circula de forma regular, continuam a ser a única barreira de acalmia de tráfego dispersa por este país fora. Há muito a fazer até chegarmos ao ponto de agradecer à bicicleta o contributo para tornar a estrada mais segura. No entanto somos nós, os que usamos a bicicleta e o carro, que estamos em melhores condições para fazer a ponte entre dois mundos tão díspares quanto próximos.

Foi recentemente criado o BICIAUTO, um clube destinado aos automobilistas que também são ciclistas. Os commuters que dividem os seus trajetos, as suas viagens, os seus dias, a sua mobilidade por, pelo menos, o automóvel e a bicicleta. É um clube que faz todo o sentido numa realidade como a nossa onde grande parte dos movimentos pendulares se fazem entre as periferias e o interior das cidades por trajetos impossíveis de pedalar, onde o transporte coletivo não é alternativa e mantém as pessoas agarradas ao carro, quando é cada vez mais difícil enfrentar o problema do estacionamento e os combustíveis qualquer dia são vendidos em lojas de luxo.

Os automobilistas são muitos dos potenciais futuros pedalantes urbanos. Um ciclista que é também condutor será de certeza mais sensível às bicicletas na estrada e contribuirá junto do seu circulo de relações para a desejada e necessária alteração de mentalidades. Quem já é um biciauto sabe como é estar do outro lado e é seguramente um melhor condutor mesmo quando os pedais onde pisa não giram, alguém que contribui para a estrada ser um lugar mais seguro. O objetivo primeiro de todos os que circulamos pelas vias de comunicação, independentemente da máquina que escolhemos, deverá sempre ser chegarmos em segurança ao destino. Reduzir a este objetivo a missão do novo clube é já justificar a sua existência.

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