Sem pretender voltar a reacender a eterna questão que tão profundamente divide a comunidade ciclomotora, e apenas para tentar mais uma vez mostrar como nos é tão fácil distrairmos a atenção do que é essencial quase com fervor religioso, vou tentar ligar o capacete e a bicicleta, no caso a partilhada.
As ciclovias em Lisboa têm crescido a um ritmo que a uns parecerá lento, a outros ideal e de certeza que há quem ache que o barco vai a todo o gás. Eu sou dos que acha que se está a fazer a casa pelo telhado, mas adiante que não é disso que quero falar agora.
Vem isto por conta duma visita que fui levado a fazer ao lugar onde a Câmara Municipal de Lisboa afixou informação sobre as ditas ciclovias. Embora todo o palavreado estendido abaixo dum mapa catita onde aparecem as linhas que indicam os caminhos para a bicicleta, não ser nada pacífico naquilo que anuncia como objectivo e estratégia para o atingir, não é nisso que vos quero prender a atenção desta vez.
Tanto quanto sei, embora manifestado de forma muito tímida, o interesse da Câmara Municipal de Lisboa em dotar a cidade dum serviço de aluguer de bicicletas, à imagem de Paris, Barcelona e, mais recentemente Londres, mantém-se. Apesar de, se a memória não me falha, ter havido algum… exagero quanto a prazos, neste momento o exagero parece-me ser apenas o peso da bicicleta (até 24kg!), o número de velocidades que pode vir a ser de apenas 3(!) e não está previsto o funcionamento 24 horas por dia! Mas avancemos que também não é por aqui que vou hoje.
Por ora vamos ler as recomendações que a edilidade faz em matéria de segurança para quem pretenda partir à aventura pela Lisboa ciclável. Pelo meio dumas quantas generalidades, começando logo pela do “cumpra o código da estrada”, atão não é que os senhores da CML nos recomendam o uso do capacete?! Ah pois é, está lá escrito ipsis verbis “Para sua segurança recomenda-se o uso de capacete e luvas”. Capacete e luvas!
Não acho que seja apropriado comparar a realidade londrina, holandesa ou outra com a lisboeta, nem é isso que pretendo. Reafirmo que não é O capacete que aqui me trás, acessório que eu uso e recomendo. Nem tampouco acho que faça sentido decalcar exemplos de realidades tão díspares. Mas acompanhar o tipo de discussão à volta de temáticas contemporâneas a outras metrópoles, é na minha modesta opinião, uma mais valia no sentido em que nos permite tirar partido do conhecimento gerado por essas experiências.
No programa de rádio da BBC4 More or Less, do passado dia 27, Tim Harford confronta o sistema das Boris Bikes -nome por que são conhecidas as bicicletas partilhadas da capital inglesa- com o uso, ou não, do capacete. Uma reportagem onde são dados argumentos a favor e contra, mas donde ressalta uma abordagem séria duma questão de princípio. Em síntese, quando se recomenda o uso do capacete, como é que se mantém a coerência disponibilizando bicicletas que não vêm equipadas com um?
Por cá, voltando à bicicleta alfacinha, massa crítica continua a ser praticamente e apenas uma passeata no calendário, onde cada um pedala a sua bicicleta…