Saíram quinta-feira notícias na imprensa dando conta de um diferendo entre a Câmara de Lisboa e a Junta de Freguesia de Carnide sobre a construção da ciclovia.
Ler que uma ciclovia é ponto de discórdia deixa-me triste, mas a verdade é que não me surpreende. Lisboa é uma cidade que tem sofrido muito tempo perdido. Conhecendo um pouco de algumas cidades onde a bicicleta tem ganho recentemente relevo, verificam-se pelo menos dois factores comuns entre elas. Por um lado as medidas tomadas contam sempre com resistências e são, muitas vezes, criadoras de novos problemas que é preciso resolver.
Em Barcelona, por exemplo, certos troços de passeio na avenida Diagonal ficaram cheios de bicicletas estacionadas porque não foram instalados parques suficientes. Em Londres houve que redesenhar a intrincada rede de corredores BUS de modo a não atirar os ciclistas para o meio das ruas. Outro factor em comum é o estado em que se encontra a gestão do trânsito automóvel e seu estacionamento já não se pôr num nível tão básico como se põe em Lisboa.
As ciclovias são uma infraestrutura necessária para incentivar a utilização da bicicleta, disso não acredito que se discorde. Já não acredito é que a pressa seja boa conselheira. Envolver as populações é fundamental porque com o diálogo que se abre sensibiliza-se e mobiliza-se quem vai ser, positiva e negativamente, afectado. Na discussão são levantadas dúvidas e avançadas soluções, confrontam-se experiências e saberes e podem evitar-se erros de projecto que custarão muito a corrigir. Como seja o facto dos stands da Feira da Luz, em Setembro, serem instalados em cima do traçado previsto da ciclovia.
No futuro não muito distante todas as ruas e avenidas das cidades modernas serão ciclovias por excelência. Os carros não serão mais os donos do espaço urbano, terão de ser conduzidos a velocidades inferiores, existirão mais passadeiras e passeios mais largos. As ciclovias são só uma parte, eventualmente bastante vistosa, de solução, mas não se pode nunca construir começando pelo telhado.