As últimas semanas foram particularmente simpáticas para a notoriedade da causa das bicicletas. Podemos ler alguns artigos na imprensa onde, apesar de ainda subsistirem demasiados lugares comuns na abordagem, os jornalistas lá conseguiram olhar um pouco para além do primeiro plano, num processo continuo em que o próximo passo será dado quando conseguirem finalmente abordar a questão bicicleta inserida na problemática da mobilidade urbana. De realçar o texto sobre a realidade ciclista na Murtosa, Aveiro, que foi sem dúvida muito positivo para a causa da bicicleta como alternativa válida e efectiva.
Maio deu à bicicleta uma visibilidade televisiva para lá do normal. Mesmo ao ritmo da pedalada dos Queen e ainda que misturando o activismo militante com o comércio lucrativo a verdade é que se viram bicicletas no pequeno ecrã. Houve até um programa da tarde que convidou gente normal que anda de bicicleta de forma normal. Pena foi que a conversa não tenha sido normal e tenha infelizmente contribuído para a percepção DE que andar de bicicleta no dia-a-dia é uma excentricidade. Confirmou-se assim que a televisão é o mais ingrato dos meios de informação também para a bicicleta.
Houve um par de intervenções na rádio, uma delas a pretexto duma iniciativa de rua que mesmo tendo contado com o boicote efectivo do santo Pedro, teve um sucesso que excedeu largamente as expectativas da organização. Maio permitiu ainda uma muito participada Massa Crítica e duas proveitosas sessões de retratos. A blogoesfera continua bastante activa com a publicação dum grande número de artigos de qualidade e a Federação de Cicloturismo disponibilizou uma análise comparativa das propostas sobre a bicicleta dos Partidos concorrentes às eleições legislativas do passado dia 5 de Junho.
Aos poucos a bicicleta é assunto de interesse noticioso e cada vez mais presente, mesmo que as expectativas sejam altas, a verdade é que custa muito furar o entendimento, ou a falta dele, que os profissionais da comunicação têm sobre toda a problemática das ciclovias, segurança rodoviária, mobilidade sustentável, meios suaves e todas estas questões que nos são tão caras. Caras a nós, a mim e a si que aí desse lado lê estas palavras. Mas basta um idiota voltar a abrir a boca para bramir umas barbosices e a discussão passa logo para o acessório.
Podemos argumentar a favor ou contra a forma como a Sonae resolveu promover a produção agrícola nacional. Podemos até achar que a empresa de Belmiro poderia começar por tratar melhor os seus trabalhadores, nacionais ou não, mais ou menos frescos, mulheres, homens, grávidas… Podemos ainda discutir a qualidade musical do artista escolhido para abrilhantar a soirée. Podemos até achar que foi muita parra para meia dúzia de canteiros arrumadinhos e logo espezinhados pelos fãs do Toni. Mas alguém terá achado todo aquele asfalto coberto de paparoca uma imagem feia? Duvido!
Por cima da terra espalhada na avenida, misturada com os sons -e com outras coisas… dos animais expostos surgiu a voz do presidente do Automóvel Clube de Portugal. Para calar os seus habituais argumentos bastaria ter oferecido embrulhado em fresquinhas folhas de alface, o seu próprio silêncio aquando do fecho da Avenida de Liberdade, para que nela pudessem aceleraram carros de competição numa ação promocional da Renault. Ou lembrar que por estes dias, parte significativa de movimentadas artérias do Porto encerram totalmente para uns ricaços brincarem às corridas. Não fora os altifalantes da televisão e poderíamos repetir que urros de asno não chegam aos céus!
Entretanto parte do movimento ciclista lá se vai envolvendo em tentativas da descoberta da pólvora, em fóruns perenes de academismo mais ou menos encartado as mais das vezes, como ocorre amiúde, totalmente descentrado do que realmente deveria motivar: como levar aqueles que ainda não pedalam a pedalarem. É que nós, os que por aqui já andamos somos os convertidos. E os outros?