Um Bom Exemplo
Nuno Xavier, ex-automobilista convicto é actualmente utilizador diário de bicicleta, por ocasião do Fórum Mobilidade Sustentável e a Bicicleta em Lisboa, que teve lugar no dia 15 de Julho de 2009, contou na primeira pessoa a sua experiência.
Que o que a seguir se transcreve sirva de incentivo para os mais indecisos na adopção duma mobilidade suave.
“À altura da decisão que alterou totalmente o meu dia-a-dia, a minha vida e tinha o seguinte enquadramento em termos de mobilidade:
- 2 automóveis em casa;
- Lugares de garagem privados disponíveis em casa e no trabalho;
- Média de 16000 km anuais de automóvel;
- Recorria exclusivamente a grandes superfícies comerciais devido ao estacionamento garantido;
- 80 kg de peso para 1,70 m de altura;
- Frequentador de ginásio (inclusive de bicicletas estáticas….).
Anteriormente, quando se deslocava em automóvel verificava:
- Trânsito congestionado;
- Sensação de clausura por estar dentro do automóvel;
- Stress a conduzir;
- Passagem por zonas ruídosas, poluídas e “cimentadas” em excesso;
- Isolamento e segregação face às outras pessoas;
- Custo elevado;
- Recurso a grandes superfícies comerciais:
- Tratamento pouco humanizado;
- Filas para pagamento;
- Locais desagradáveis e demasiado artificiais;
- Falsa sensação de melhores preços que leva a gastar mais dinheiro.
Fiz várias visitas em turismo a cidades com tradição de utilização de bicicleta ou com sistemas de bicicletas partilhadas (Amesterdão, Copenhaga, Estocolmo; Paris, Kyoto, …). Constatei ainda, em cidades como Paris, Londres, Barcelona, o exponencial aumento de utilizadores de bicicleta; deslocando-se perfeitamente de bicicleta e de transportes públicos. Comecei então a questionar-me:
- Porquê continuar a usar o automóvel particular na minha própria cidade?
- Porque não promover na minha cidade uma qualidade de vida equivalente à das mais evoluídas cidades da Europa?
- Porquê gastar uma parte substancial do meu ordenado com o automóvel?
- Para quê fazer exercício num ginásio a olhar para uma parede ou um ecrã de televisão e pagar caro por isso?
- E para ir às compras, precisarei de automóvel?
- E as inclinações, os roubos de bicicletas, a insegurança de andar na rua?
Após reflexão, em Outubro de 2007 decidi-me a adoptar a bicicleta como veículo utilitário e meio de transporte principal com os transportes públicos, após o que verifiquei:
- Faço 3500km ao ano em deslocações diárias;
- A última vez que coloquei combustível foi em Outubro de 2008;
- A última vez que fui a uma oficina (só para mudar o óleo do carro) foi à dois anos;
- Se me perguntarem a que preço estão os combustíveis – não sei;
- Quilometragem média anual efectuada nos últimos 3 anos de automóvel inferior a 3000 km (no conjunto dos 2 automóveis em feitas apenas em deslocações extra-urbanas);
- Peso actual 67 kg – perdi 13 kg;
- Continuo a ir às compras, mas a um tipo de comércio a uma escala mais humana e saudável!!
- zero bicicletas roubadas, zero vezes assaltado, zero acidentes, zero vezes parado na estrada;
- Bicicleta dobrável, bicicleta normal de cidade+atrelado+alforges, cadeados de segurança.
Poupança substancial em:
- Ginásio: 500 €/ano;
- Combustível: 1000 €/ano;
- Manutenção mecânica: 200 €/ano;
- Sem necessidade de trocar de automóvel dada a baixa quilometragem – carros pagos e sem prestações mensais a pagar por financiamentos: largos milhares de euros….;
- Hoje vê a bicicleta como veículo utilitário:
- Realização do percurso casa-trabalho-casa;
- Deslocação a reuniões externas na cidade;
- Idas a aulas de Pós-Graduação;
- Deslocações nos tempos livres ao fim dos dias de semana, bem como aos fins de semana;
- Idas às compras;
- Passeios turísticos em férias e fins de semana, em Portugal e no estrangeiro.
Hoje em dia, identifica as vantagens da bicicleta como meio de transporte:
- Rapidez (2a forma de transporte mais rápida);
- Facilidade de estacionamento;
- Custo (a mais económica);
- Anti-stress;
- Facilidade nas deslocações após o trabalho;
- Previsibilidade de duração dos percursos;
- Custo elevado;
- Evitar filas de trânsito;
- Evitar tensão e maior sensação de liberdade;
- Facilidade de estacionamento;
- Facilidade de contacto e diálogo com outras pessoas;
- Recurso a formas de comércio mais humanizadas e com tratamento personalizado;
- Recurso a formas de comércio a uma escala mais humana e em ambientes mais saudáveis e agradáveis;
- Ir às compras deixou de ser algo chato e aborrecido;
- Melhores preços e melhor qualidade e diversidade em geral dos produtos;
- Facilidade de contacto com os comerciantes e outros clientes, num ambiente de “bairro”;
- Contributo para a sustentação do comércio local perto de casa;
- Melhor percepção das zonas visitadas;
- Facilidade de deslocação e estacionamento (especialmente em cidades com sistemas de bicicletas partilhadas);
- Divertimento;
- Forma mais agradável de conhecer os sítios.
Pode-se concluir que é possível promover assim:
- Uma cidade mais humana;
- O comércio local e tradicional;
- Conhecermos melhor a cidade e as pessoas que nela habitam;
- O contacto entre as pessoas;
- A segurança na estrada e nas ruas;
- A saúde e qualidade de vida nossa e dos nossos concidadãos;
- Uma cidade sustentável e que não teremos vergonha de deixar às gerações futuras;
- O aproveitamento e fruição dos espaços comuns da cidade por um número maior de cidadãos;
- Cidades com mais parques verdes, e zonas comuns de vivência;
- O não desperdício de recursos energéticos escassos usando o único transporte verdadeiramente sustentável e mais eficiente de todos;
- O não desperdício de outro recurso cada vez mais escasso – o espaço nas cidades.
Afim de quase dois anos a usar a bicicleta todos os dias, posso assegurar que o primeiro passo (ou volta ao pedal…) é experimentar um dia, quando o fizer, irá de certeza repetir!!”
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