FALAR É PRECISO


dot-helmet-testingSinto-me bem sempre que dou comigo encaixado na categoria falam-falam-mas-não-os-vejo-a-fazer-nada. Sempre há um alguém qualquer, com mais ou menos propriedade, a pretexto duma coisa ou de outra, mais ou menos a propósito, do meio duma qualquer menor ou maior discordância, que me cola, ou pelo menos tenta, a etiqueta de sócio do clube dos que só falam. E eu gosto. A sério que não me incomoda e se o escrevo é só para chamar a atenção para duas coisas.

Todos somos muito mais falação que fazemento pelo que falar é já um excelente começo para a acção. Porque a impossibilidade de ver não significa objectivamente a ausência do objecto, podendo ser provocada por mera incapacidade de registar na retina a luz reflectida pelo dito, pode ser que o exercício motivado pela comoção das células cerebrais do observador ao ouvir-me, o façam ver. E essa é uma das esperanças, talvez vãs mas seguramente modestas, que acalento ao falarzer. Confuso? É normal.

Quando o Ricardo Araújo Pereira termina o delicioso monólogo com a frase conhecida, faz um retrato redondo do sentido crítico mais inócuo. Descontado a graduação do nível de frontalidade com que a opinião do outro é contrariada com o défice entre conversa e acção, normalmente é sinal de escassez de argumentação. Algum ponto nevrálgico foi tocado e dispara um mecanismo que diverge a atenção do essencial para algo mais pessoal, íntimo. E eu gosto disso. Touché!

Repito: falar é fazer. Falar é debater, discutir, melhorar, corrigir, aprender sempre, uma coisa obrigatoriamente biunívoca e aprende-se ganhando razão, a nossa ou a dos outros. E há ainda a outra metade de cada um, a metade que efectivamente faz. É que se quem fala não é dono da verdade, tampouco quem executa é imaculado na acção. Na primeira vida desde blog alguém me disse várias vezes que o exemplo dado diariamente ao chegar ao trabalho a pedalar, valia mais que todas as letras gastas a desenhar pedais na cabeça dos outros. E eu concordava e lá ia consumindo suor e lá continuava a derramar militância pela ponta dos dedos.

Falava e fazia. Falamos e fazemos. E é exactamente por aí que nos podemos medir quando a questão for posta no juízo final e a primeira das duas de que falei a cima. Sermos voto derrotado não nos abala a coerência. E se o fazer é sempre susceptível de provocar opinião também o dizer deve ser motivo de apreciação. E por aqui vamos ao segundo aspecto que me surge no tema de hoje. Temos disponíveis online muito do que é o pensamento da massa de crítica lusitana e ciclista. Mas temos muito pouco debate.

Não é por acaso que os assuntos da mobilidade e por consequência da bicicleta, raramente têm espaço nas páginas dos jornais ou tempo de antena na rádio e na televisão. Não é coincidência que os “modos suaves” de transporte sejam tratados sempre como fait-divers, uma moda chique, uma excentricidade. O certo é que havendo da nossa parte um discurso quase apenas virado para dentro, onde apesar de existirem posições muito dispares sobre diferentes assuntos, não conseguimos animar o debate. E falar é preciso, é muito preciso, para congregar, esclarecer, motivar, empenhar. É que sem debate não há polémica e sem polémica não há notícia!

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Uma resposta para “FALAR É PRECISO”

  1. Opá, na questão do debate on-line, discordo profundamente. Há muito… quer seja no Facebook, quer seja nas listas de e-mail, como nos diversos blogues.

    Já na CS aí sim, é a total ausência de debate.

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