EVIDENTEMENTE
Tudo tem uma razão para ser como é e encontrar as razões e os porquês das coisas serem como são é talvez o verdadeiro sentido da vida. O que descobrimos depende não só de onde procuramos mas sobretudo da capacidade, da abertura, para compreender o descoberto. A bagagem com que nos fazemos à viagem de busca, até o porto de partida determinará as razões e os porquês que encontraremos pela vida fora. Na vida toda ou na vida dum só dia. Leva não leva e lá anda alguém a perguntar se conheço quem tenha tomado a bicicleta numa troca de circunstância, pela crise ou pelo preço da gasolina. Se sei de quem tenha abandonado a dependência do carro pelo vício da bicicleta. Alguém que se tenha convertido num monge cicludista para salvar o planeta do aquecimento global ou pura e simplesmente combater o poder da indústria dos perfumes com ataques maciços de odores corporais.
Há mais gente a pedalar, por todo o lado isto é uma evidência mas mesmo as evidências quando nascem não são para todos. Um cidadão pode perfeitamente fazer a sua vidinha sem nunca aprender a pedalar nem sequer ver como por aí anda tanta gente de rabo no selim, e mesmo assim ser feliz. Os outros, os que reparam e que podem também ser felizes, os para quem não lhes bastavam as motos a ultrapassar pela direita, agora também andam os malucos das bicicletas, para os que apanham um susto de cada vez que se cruzam com um cavaleiro da calçada, para esses a tal evidência poderá provocar incómodo, curiosidade, irritação, sorrisos, vontade de experimentar, inveja, indiferença, ou outro qualquer cocktail de sensações e sentimentos. Quem olha a bicicleta que passa pode muito bem ou pode não, muito bem também, pensar sobre isso.
É muito mais cómodo quando as coisas são fáceis de perceber, ou melhor, quando as percebemos facilmente. A bicicleta, fruto sobretudo do markting que a utiliza como maneira que chegar mais até a quem a não usa, é um veículo ecológico. Logo, quem usa a bicicleta é uma pessoa com preocupações ambientais, logo usa-a porque acha que assim protege o ambiente. A bicicleta é aceite como um veículo barato -que horror, esta bicicleta custa 500€!?- porque não gasta combustível e, com o aumento em flecha dos preços da gasolina, quem opta pela bicicleta quer poupar, logo optou pela bicicleta por razões económicas. Pedalar é uma saudável actividade, de tal maneira que há quem o faça sem sair duma sala cheia de vapores hormonais, música de discoteca e espírito de recruta. Logo, quem anda de bicicleta, fá-lo por desporto.
Vistas bem as coisas tudo isto é assim, só que não desta exacta maneira, objectiva, simplista. A bicicleta e quem a utiliza são tantas vezes eles próprios veículos para abordar de mais uma maneira, os temas ambiente e economia. Mesmo na cabeça do tal cidadão que até já reparou que andam mais bicicletas a passar lá na rua, existe a tentação de compreender esta evidência à luz duma simples equação de causa-efeito. Quem tem de se aproximar um bocadinho mais das bicicletas, jornalistas por exemplo, muito raramente o faz sentado no selim e é certo que terá o estigma ambiente-poupança-desporto por cartilha. Ver a bicicleta como um veículo que serve para transportar uma pessoa do lugar A ao lugar B, porta a porta, sem nenhum dos problemas do carro ou do transporte público, é quase uma impossibilidade material. Como pode alguém não preferir o conforto do estofo e do choffer? E o cheiro a suor que esta gente tem?
O filme no fim do texto diz o me faltou pôr por palavras mas antes que o veja, responda-me a uma perguntinha só assim em jeito de inquérito aos leitores, e pode usar a caixa de comentários que é grátis: se pedala, porque é que pedala? A bicicleta é um assunto de mobilidade, logo de ambiente, logo de saúde pública, logo de economia. Dito isto é muito fácil imaginar a quantidade de caminhos que se podem percorrer se nos deixarmos envolver pelo seu corpo e embrenharmo-nos na sua alma. A quem se propuser fazer essas viagens e ir compreendendo um bocadinho as razões da tal evidência, terá que primeiro entender a mais simples das coisas: a primeiríssima razão porque se vê por aí gente em cima de delas é porque andar de bicicleta é divertido!
The Holstee Manifesto Lifecycle Video from Holstee on Vimeo.
20 de Maio de 2013 às 01:54
Humberto gostei abraço Caetano
20 de Maio de 2013 às 01:57
….li, mas vou ter de reler para retirar as devidas ilações! só depois é que vou poder fazer um comentário à altura do texto.
20 de Maio de 2013 às 07:46
Não é por preocupações económicas;
Não é por preocupações ambientais;
Não por desporto…
Ando porque acho divertido.
Achei os personagens do filme demasiado “ciclistas”; faltava ali um leque mais diversificado de pessoas. Com quem outro tipo de pessoas se pudesse identificar. Assim é apenas um filme bonito dos mesmos para os mesmos…
20 de Maio de 2013 às 12:42
Ao ler a tua pergunta “porque é que pedala” a primeira resposta que me vem à mente é: “por prazer”. Há depois uma série de outras vantagens como os beneficios para a saúde, para o ambiente, para a carteira, o (re)descobrir a cidade de outra forma e por vezes a economia de tempo na deslocação. Tudo isso é bom mas o que mais me motiva é mesmo o prazer de pedalar!
Abraço
Julio
21 de Maio de 2013 às 08:58
pedalo para ser mais feliz, não é por economia de tempo, não é por motivos económicos, não é por desporto, é mesmo porque me faz sentir melhor, porque me poe um sorriso na cara logo de manhã! :-)
28 de Maio de 2013 às 01:10
Eu não pedalo muito. Sou uma totó. Devia pedalar muito mais. Porque quando pedalo, adoro. Adoro a mobilidade, é como se fosse um andar, que também gosto, mas mais rápido, com a brisa no cabelo, o desenhar pelo espaço. Gosto porque tenho mais acesso à cidade, pertence-me mais e eu fico a fazer mais parte dela. Andar de bicicleta dá-me a sensação que usufruo mais da rua e que tomo em braços o direito que tenho a ela. Mais um bocadinho e sinto-me como o ET e por isso sei que tenho de pedalar mais.
Além que o preço dos outros transportes está proibitivo…