BICICLETA QUENTE EM TELHADO DE LATA
Já fiz muitos quilómetros de carro com uma bicicleta agarrada ao tejadilho. Quando decidi desafiar a cidade invicta de bicicleta escolhi um modelo que não era opção para o consumidor que se limitasse a procurar dentro de fronteiras. Como já por aqui repeti, foi na Galiza, mais precisamente na Bici Total de Vigo que, depois de crescido, comprei a primeira bicicleta. Influenciado pelos sucessos de Lance Armstrong no Tour, escolhi um modelo híbrido da Trek, bicicleta que ainda hoje é a mais usada no meu commuting diário. Passado sensivelmente um ano e quando resolvi aventurar-me por trilhos mais selvagens, mantive-me fiel à loja e à marca optando por uma Fuel e, já de regresso à capital, mandei vir da Galiza um modelo feminino de montanha da marca de Waterloo.
Ir do Porto a Vigo no início do século XXI por estradas ainda não portajadas já era coisa que compensava por várias razões. O marisco e o peixe, a movida e as tapas, o passeio e as gentes, o preço da gasolina e até o preço das bicicletas, tudo atractivos para aquele tempo e vai-não-vai, me meter no carro e cruzar a fronteira. Por duas vezes fiz o caminho de volta com mais um par de rodas. Se o primeiro ainda fez a viagem apertadinho na bagageira, o segundo já veio preso no tejadilho num suporte da Thule. Como as revisões são grátis para todas as bicicletas compradas na loja, foram várias as vezes em que, enquanto eu ia de copas, as meninas ficavam no salão a fazerem tratamentos de rejuvenescimento. Muito boas recordações e saudades dessas viagens guardo e do fantástico e muito profissional atendimento na loja galega.
Por causa da itinerância de então e por ter duas bicicletas que me eram inseparáveis, tive de comprar um segundo suporte. Já nessa altura eram caros, tão caros como uma bicicleta de supermercado! Com ambos os suportes podia transportar as duas bicicletas ou partilhar a viagem de carro com quem quisesse ir à procura de trilhos e aventuras montanhistas. Nunca transportei mais de duas bicicletas, embora já tenha visto carros com quatro e até cinco suportes no tejadilho. A resistência provocada pelas bicicletas no tejadilho aumenta significativamente o consumo e exerce sobre a estrutura do automóvel uma elevada tracção. Não é à toa que os fabricantes de suportes recomendam que se limite a velocidade quando se viaja utilizando esse tipo de equipamento. Se algum dia tiver que transportar mais que duas bicicletas -coisa que mais cedo ou mais tarde acabará por acontecer, mandarei montar uma gancho de reboque para poder usar um suporte próprio na traseira do carro. Se entretanto ainda houver carro!
Quando se monta um segundo suporte no tejadilho, a fechadura dum deles terá acesso muito difícil visto ficar do lado de dentro, pelo que há que montar esse suporte apenas após inverter o braço basculante. Isto deve ser feito para facilitar o acesso a cada um dos suportes desde o respectivo lado do carro mas sobretudo por uma questão de segurança. O segmento que segura a bicicleta pelo quadro deverá sempre estar de modo a que a roda da frente da bicicleta esteja virada para a frente do carro. Desta forma a força exercida sobre a estrutura não contraria o sistema de retenção, não empurrando a bicicleta para fora do suporte. No caso de se instalar um terceiro suporte, o do meio poderá ficar com a fechadura virada para qualquer dos lado, desde que esteja apontado na direcção correcta. Basta ler atentamente o manual de instalação das bases para não cometer esse erro.
Vejo todos os dias carros com suportes no tejadilho mal montados e não foram poucas a vezes que abordei condutores no sentido dos alertar para essa questão. Já me responderam que o facto de um ou mais suportes estarem ao revés tem que ver com o espaço disponível para arrumar tantas bicicletas. Noutros casos pura e simplesmente meteram mãos à obra sem olhar para o folheto de instruções ou foram “outros” quem montou os suportes. Escusado será dizer que os vendedores destes suportes também estão a pecar por omissão no acto da venda mas também sabemos o tipo de ajuda técnica que podemos esperar da maior parte das lojas. Quando se tem que transportar mais que duas bicicletas pode haver dificultar em desencontrar os guiadores. A solução mais fácil é realmente intercalar a direcção das bicicletas. Fácil mas pouco inteligente, visto que dessa forma não são respeitadas as regras de montagem e qualquer garantia do fabricante é assim anulada, além que põe em risco a cobertura do seguro em caso de (longe vá o agoiro!) acidente. Não são raros os relatos de situações envolvendo bicicletas voadoras com mais ou menos consequências mas sempre com um grande susto.
Para além dos modelos “normais”, existem suportes específicos para bicicletas mais pesadas como as de descida, de downhill, outros em que a bicicleta é fixada ao suporte directamente pelo forqueta, desmontando a roda da frente, recomendados para bicicletas de estrada, que pelo seu reduzido peso e fragilidade, ficam dessa maneira menos expostas à velocidade do automóvel. Há-os de vários fabricantes e para quase todas as bolsas. Qualquer que seja o suporte que escolha, é imprescindível que leia e respeite as indicações do manual de instalação! Como dizem os fabricantes, “em caso de dúvida deve contactar-se o fornecedor”. Por vezes, uma simples consulta online e o problema fica solucionado. Por causa das tosses, a verdade é que quando viajo nunca fico muito tempo atrás dum carro que transporte bicicletas no tejadilho, sobretudo se reparar que vão guiadores virados para trás.
Bem, a terminar este aviso à navegação e desafiando novamente a vontade dos caríssimos leitores para perderem o vosso precioso tempo a comentarem as minhas divagações, tenho ainda assim a ousadia de perguntar: usa o meritíssimo leitor suportes de tejadilho para bicicletas? No caso de se dar ao trabalho de responder e na eventualidade de ser de forma afirmativa, já reparou se os tem bem montados? E, correndo o risco de me tornar insuportavelmente maçador, só mais uma pergunta: costuma vossa senhoria rever apertos e ajustes antes de viajar? Muito obrigado pela participação neste mini-inquérito. Um bem haja! E boa viagem.
23 de Abril de 2012 às 23:19
Humberto, este post está um mimo, parabéns.
Respondendo ao seu singelo inquérito, não uso suporte, mas gostava de saber se há suportes seguros para bicicletas de roda 29.
Por outro lado, se Deus me der pa$iência, hei-de comprar uma Brompton dobrável, que resolve todas as questões de espaço.
Abraço,
Francisco
23 de Abril de 2012 às 23:42
Tenho suportes, estão bem montados, e costumo verificar sim… e não consigo deixar de olhar para a Victoria aqui dos lados… está giraça, como sempre!
Quanto ao desafio do outro post, está a ser tido em conta!
24 de Abril de 2012 às 08:14
Transporto as minhas bicicletas numa carrinha de caixa fechada.
24 de Abril de 2012 às 08:55
Grande sorte têm essas bicicletas!
24 de Abril de 2012 às 23:20
Só tenho um suporte. Está bem montado, mas não costumo verificar nada…
Já não me vou esquecer!
Bom post
26 de Abril de 2012 às 00:22
Dependendo de para onde vou, com quem e o que pretendo fazer, já tenho viajado de carro com cinco bicicletas no tejadilho, com barras desenhadas e feitas por mim. Três bicicletas para a frente e duas para trás, opção escolhida, obviamente, devido ao espaço. As barras não ultrapassam as dimensões do chasso. Não ignoro os perigos que referes nem os problemas mecânicos e aerodinâmicos da minha opção. Por isso a solução é simples: imobilização de todas as rodas; imobilização das correntes; verificação periódica dos apertos DURANTE a viagem, com uma chave de torque que adaptei; limitação da velocidade a 80 km/h (O drama! O horror! 80 km/h! Impensável ir tão devagar!) – e, se estiver muito vento, circular ainda mais devagar (Coitado! Vai parado!); e evitar ao máximo manobras bruscas.
2 de Maio de 2012 às 18:27
…as “minhas meninas” viajam sempre no banco de tras…rebatido!!
9 de Maio de 2012 às 16:06
Tenho uma bike que já viajou mais de carro do que de pelas suas rodas :-/
Embora tenha dois suportes (o Thule 591 e o 561) nunca andei com os 2 ao mesmo tempo mas já tinha reparado que muita gente vira a bicicleta para não se dar ao trabalho de fazer umas mudanças no suporte.
Como coloco o suporte e retiro depois da viagem os apertos estão sempre garantidos.
Só foi pena que na primeira vez que levei uma bike, em Aveiras tenha decidido meter o carro nos lugares com sobra. A sorte é que os danos foram na estrutura da sobrinha e não na bike nem no suporte :)