ONDE PÁRA A COERÊNCIA?


Quem nunca mudou de opinião que atire a primeira pedra. Esta pode ser uma variante ao popular ditado muito bem adaptado ao que aqui me traz hoje. Podemos facilmente aceitar a mudança no pensar, ou melhor ainda a evolução das ideias, a renovação de conceitos, a alteração de mentalidades, como algo positivo e desejável. Mas se a mudança foi, partindo duma visão vanguardista e renovadora, na direcção de conceitos mais conservadores e reaccionários, podemos então sacar das pedras.

Outro ditado que também me acorre é o que afirma que até os asnos aprendem. Aprender não é mais que mudar de opinião, evoluir, avançar. Olhando à nossa volta e observando a paisagem urbana que nos rodeia podemos pelo menos ter a certeza de que não foram burros que permitiram, que desenharam e projectaram o espaço urbano, as nossa vilas e cidades, praças, ruas, avenidas, bairros. Foram apenas pessoas que não aprendem ou, de forma benévola, podemos antes dizer que aprender, aprendem mas muito devagar, muito mais devagar do que a velocidade a que tudo cresceu.

Visite-se a Pontinha, Vila Nova de Gaia, a Maia, Vila Franca, Telheiras, Campo Alegre, a Costa de Caparica, a Póvoa de Varzim e percebe-se que os valores urbanísticos, de qualidade de vida, de mobilidade, foram sempre os mesmos, arcaicos e condenados, provadamente falidos. À margem de  intervenções pontuais, de ténues tentativas de fazer melhor, na fotografia geral a imagem é a mesma. Umas pinceladas mais alegres aqui, uns tons mais suaves ali, mas o mesmo traço grosso, tordo, anodizado dá a Portugal este ar de anarquia urbana pequeno burguesa onde parece que as pessoas todas calçam carros e não sapatos.

Andamos nós, seguramente a maioria dos que por aqui passam, preocupados em construir ideias, em contribuir para a tal mudança de mentalidades. Ávidos de encontrar de entre os decisores aqueles que connosco partilhem esta necessidade de mudança das opiniões, de capacidade para corrigir erros e emendar gestos e vai não vai levamos uns socos que nos deixam outra vez à beira dum ataque de cepticismo. Ainda estou a falar do imbróglio na CML entre as vereação do ambiente e a da mobilidade sobre o sistema de bicicletas partilhadas para a capital.

Chegou-me pela mão dum guardião de memória este pequeno recorte do Jornal de Notícias publicado em 11 de Setembro de 2000, há portanto mais de onze anos, que transcreve a opinião dum senhor identificado como Urbanista, de sua graça Fernando Nunes da Silva. Pelo que se lê na palavra do senhor -está o texto integralmente entre aspas- fica-se a saber que o senhor acreditava num monte de coisas boas que tinham de ser feitas pelas autarquias. Pena foi o jornalista não lhe ter perguntado o que pensava o senhor Urbanista sobre as bicicletas de aluguer. Ou qual a opinião sobre o outro senhor agora colega dele na vereação…

Ficam as palavras do senhor Nunes da Silva e digam lá qual foi a direcção em que mudou a sua opinião?

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2 Respostas para “ONDE PÁRA A COERÊNCIA?”

  1. Bom, a bem da verdade as medidas por ele defendidas nesse curto artigo de 2000, nominalmente têm o apoio da CML. O problema a meu ver é que entre o Nunes da Silva académico e o Nunes da Silva autarca há grandes diferenças, fruto de pragmatismo dirá ele, falta de coragem e apoio do Presidente A. Costa, digo eu. Isto para falar só pela rama, que é o que ele se dispõe a fazer no que aos modos suaves diz respeito.

    • O Presidente quer é votos e só há uma maneira dos conseguir: tornar a cidade melhor para quem nela vive e nos seus órgãos autárquicos vota, os cidadãos de Lisboa. Insistir em privilegiar os interesses dos habitantes da periferia em entrarem de carro na cidade sem qualquer tipo de limitação verdadeiramente desmotivadora -exceptuando umas medidas introduzidas com pezinhos de lã e muito pouco fiscalizadas.

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