EU NÃO VOU AO DOLCE VITA TEJO
Vi este poster pela primeira vez na estação de Carcavelos, numa solarenga manhã de fim de semana, enquanto esperava pelo comboio que me havia de levar até Algés. A bicicleta de todos os dia, apoiada no descanso, ao notar o meu olhar fixo, atentou também no alvo da minha incredulidade. Pareceu-me que para tentar animar-me, lembrou-me que naquele espaço gigantesco ao menos existe uma não menos gigantesca loja de bicicletas, como que a dizer-me que compreenderia acaso eu lá quisesse ir, mesmo sabendo ela que são bicicletas doutro pedigree.
Absorto nas letras e números, quais coordenadas GPS, que nos indicam o caminho, levei algum tempo a perceber que o meu ar de náusea não tinha passado despercebido à minha fiel companheira, mas logo tratei de a confortar. Nunca lá irei! disse-lhe e acrescentei, Nada existe naquele lugar que me faça falta. Tudo o que ali está representado é a pura negação daquilo em que acredito, da razão que me leva a procurar viver da maneira que vivo.
Neste efémero cartaz publicitário também está o comércio de rua bem como todos os temas académicos sobre modelos de desenvolvimento urbano e social. Mas o que me chamou a atenção foram as indicações viárias para chegar a um lugar chamado doce vida que fica num buraco longe do rio que lhe dá o nome e em que nem há baleias! Toda a simbologia da coisa é incongruente. E aquilo foi tudo feito por gente inteligente, paga por gente rica, a mesma gente que anda a vender um futuro a um povo que tem a cabeça enterrada na areia. Areia do deserto em que isto se tornará se não dermos o salto para longe desta linha!
O comboio apagou da minha vista este borrão sujo e deprimente, levou-me ao destino de onde segui pedalando ao ritmo da verdadeira vida, doce como o rio que aos poucos vê regressar os saltos dos corvineiros brincalhões. Parei numa esplanada e pedi uma bica em chávena fria. A Trek sorria feliz.
10 de Maio de 2011 às 11:23
muito bem! e que essa fiel companheira continue feliz…
10 de Maio de 2011 às 15:25
Humberto, obrigado pela réplica
11 de Maio de 2011 às 00:35
Também não penso por lá os pés. Mais um mega templo do consumo, feito no meio de sítio nenhum, pronto a endividar ainda mais a população, que só lá pode chegar da forma mais poluidora e destruidora possível: de carro. Carro esse importado, comprado com recurso ao endividamento e atestado com combustíveis fosseis caros, cada vez mais raros e igualmente importados. Todo um hino ao desperdicio e à ignorância.
11 de Maio de 2011 às 18:52
Discordo da parte em que escreves “feito por gente inteligente”. Sem dúvida feito por gente academicamente bem formada, mas a inteligência pressupõe capacidade de pensar e, se os tipos fossem capazes de pensar, não fariam aquilo.
11 de Maio de 2011 às 20:32
Eles lá serem capazes de pensar são. E para conseguirem projetar tais obras de engenharia alguma inteligência albergarão em seus cérebros. O que lhes sobra é a liberdade, se é que a liberdade pode sobrar, de concretizar este e outros mamarrachos semelhantes.
29 de Junho de 2011 às 23:05
olá também eu fiquei fascinado com tal publicidade.
espero que não me leve a mal mas “peguei emprestada” a sua foto para fazer um post no meu blogue
mantive os créditos e juntei o link do seu blogue para quem quiser pedalar até este seu espaço
um abraço e votos de continuação de um bom trabalho a promover esse belo meio de transporte que é a bicicleta