MASSA CINZENTA
As cidades portuguesas não têm muito que ver com as canadianas, disso não restam dúvidas. Os problemas que por cá identificamos não serão seguramente os mesmos que um habitante de qualquer metrópole do segundo maior país do mundo apontará à sua cidade.
A idade da cidade, o tipo de construções, a malha viária são algumas das condicionantes à forma como se procuram e encontram soluções de mobilidade nas cidades. Mas a maior das condicionantes não está no betão, no tabique ou na calçada, está na massa cinzenta.
A avenida Dunsmuir na cidade de Vancouver, Canadá, foi alvo duma intervenção ao nível das ciclovias. Ficamos a saber isso por um vídeo disponível, pelo menos, no youtube. No entanto, se um curioso habitante do mundo quiser saber mais sobre isso, basta ter acesso à rede et voila! pode aceder ao site da cidade e ficar a saber tudo sobre bikelanes and so on!
Eu não comparo Lisboa nem qualquer outra cidade lusa com burgos estrangeiros, os que por aqui passam mais amiúde são bem capazes de já ter lido isto, mas comparo processos, ideias, métodos. A quantidade e a qualidade de informação disponibilizada pelas autarquias nacionais sobre os seus projectos, e fiquemo-nos pelos cicláveis, é diminuta, to say the least. Por exemplo, alguém se lembraria de procurar pelos mapas das ciclovias alfacinhas no site do Museu dos Transportes Municipais? Pois, mas é lá que estão…
Bom, mas por agora fiquemos pela solução encontrada na avenida Dunsmuir para as vias destinadas às bicicletas. O projecto pretende separar os velocípedes do trânsito pedonal e do motorizado. Passeios largos, espaços para estacionamento, paragens de autocarro, circulação automóvel, tudo perfeitamente conciliável com a bicicleta. Assim como a avenida da Liberdade, a tal que o vereador Sá Fernandes, numa recente entrevista à Agenda Cultural, referiu como sendo “difícil de pedalar”… Enfim, comparações de massa cinzenta.
13 de Dezembro de 2010 às 20:32
[…] Lisboa — e escrevendo Lisboa, escrevo as pessoas de Lisboa — é uma cidade que precisa urgentemente de encontrar formas especificas de se indignar, de protestar, de marcar o debate, de ser mais afirmativa. Formas próprias de alertar para a necessidade duma mudança de atitude. Mudança a nível individual (dos peões e dos automobilistas que, eventualmente se cruzariam com a nacked), ou a nível institucional dos vários poderes com autoridade nestas questões. Até porque uma leva a outra. Recentemente, o vereador dos jardins de Lisboa -que é também o senhor que tem às costas as ciclovias- disse numa entrevista a uma publicação da própria CML- que a Avenida da Liberdade é uma rua difícil de se fazer a pedal, quando o caderno de encargos para a bicicleta de uso partilhado -de que o mesmo senhor é parte responsável- prevê uma bicicleta de mínimo 3(!) velocidade e um máximo de mais de 20 quilos(!). Gostava de ter lido alguma prosa sobre isto, mas ainda nada… ou quase. […]