LEITURA EXPRESSO


Escreve-se muito pouco na imprensa, ouve-se quase nada na rádio e raramente se vê na televisão trabalhos jornalísticos sobre a bicicleta enquanto meio de transporte. O caro leitor deste blog concordará com esta opinião? Arrisco-me mesmo a alargar a ideia e dizer que as questões da mobilidade são praticamente ignoradas pela nossa Comunicação Social. Saltitando dum tribunal para um estádio e daí para São Bento ou Belém, a CS mal tem tempo para pensar uma agenda minimamente sustentável.

As coisas já estiverem piores, é verdade. O projecto 100 Dias de Bicicleta por Lisboa foi, merecidamente, motivo de pelo menos sete reportagens de televisão e duas de rádio, o que é um feito! Por outro lado há hoje  nas redacções de informação, mais profissionais sensíveis às questões do ambiente e da sustentabilidade.  As razões para esta tomada de consciência são várias, uma delas é o facto das actuais condições de emprego dos jornalistas não serem propiciadoras dum estilo de vida despreocupado e folgado, financeiramente falando.

Manuel Vázquez Montalbán, em 1963, escreveu no ensaio “Inquérito à Informação”, onde analisa  as transformações na comunicação de massas num época em que a televisão começava a ganhar terreno, e cito de memória, que os “jornalistas tinham deixado de ser os habitantes mais ricos dos bairros operários, para se tornarem os mais mal pagos dos bairros burgueses”. Eu direi que hoje ocorre uma espécie de regresso às origens. Neste processo de downgrade o meio de transporte é escolhido por um orçamento limitado e a bicicleta é cada vez mais uma opção a ter em conta. E basta cruzar a ponte 25 de Abril ou tentar fazer a 2ª Circular em hora de ponta, para perceber o peso que a mobilidade tem no orçamento de grande parte dos nossos concidadãos.

O excelente artigo de opinião publicado no Expresso do passado dia 21 de Agosto,  e que passou bastante despercebido na blogosfera assinado por Manuel Ferreira dos Santos e disponibilizado aqui, mostra claramente que tipo de país se continua a projectar e quais as formas de transporte que o governantes, por opção da política fiscal, privilegiam. É um texto de leitura obrigatória!

Na legenda da fotografia que ilustra a prosa -pessimamente escolhida, diga-se de passagem- lê-se “É difícil perceber que a mobilidade sustentável seja penalizada fiscalmente.” Eu acrescento que, para além de incompreensível é uma vergonha e um embaraço para um país de escassos recursos e tremendas necessidades. Aproxima-se mais um Dia Europeu sem Carros e a Semana Europeia da Mobilidade, uma boa altura para a veia verde do engenheiro dar nas vistas. Esperemos…

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Uma resposta para “LEITURA EXPRESSO”

  1. Miguel Barroso Says:

    Para mim, para além da pouca cobertura que a CS dá à mobilidade sustentável em geral, é o tom quase “trocista” com que quase todas estas reportagens são encaradas. São sempre reportagens com um tom ligeiro e bem disposto, e que transmitem quase sempre uma ideia do género ” aqui temos mais um cromo raro a tentar fazer uma coisa que não cabe na cabeça de ninguém” ou “que engraçado, tem mesmo piada – há com cada um”. Isto para não falar na desinformação que tantas vezes fazem passar, com dados errados, citações incompletas ou descontextualizdas… mas isso já é um mal geral, não se resume aos artigos e reportagens sobre mobilidade sustentável.

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