PUBLICIDADE NA CONTRA-MÃO
A internet é o que permite hoje estarmos mais perto de tudo o que nos interessa. Seja qual for o nosso desejo, estarmos ligados à rede é uma boa maneira de o conseguirmos, pode jogar-se e apostar, namorar e encomendar comida, comprar tudo em qualquer lugar do mundo, estudar e copiar, ver o proibido e tornar-se conhecido sem sair do teclado. A informação está disponível algures, em servidores sorvedouros de energia e pelos caminhos da fibra óptica chegamos lá com uma rapidez irreal.
Procurar um significado para uma palavra é hoje muito mais rápido via uns e zeros virtuais que folhear as paginas de qualquer dicionário. Mas nem sempre foi assim. Não há muito tempo, o processo de acesso à internet era mais demorado, não só porque se tinham de efectuar algumas tarefas meramente técnicas, ligar o modem por exemplo, mas porque a velocidade do vai-vem de informação era bem menos rápida pelos caminhos do cobre.
Autoestradas de dados entretanto abertas e sistemas de transmissão mais eficazes fizeram com que hoje se consiga comunicar na rede a velocidade mais rápidas que o tempo real. A velocidade tornou-se uma porta para a qualidade. Mas desde os 56k até aos 100 megabytes do presente o que mudou sobretudo, foi a nossa relação com a informação. Somos mais rápidos a encontrar o que julgamos procurar e podemos escolher as fontes dessa informação a la carte. Conhecemos supostamente mais do Mundo e de nós próprios, em suma sabemos mais. Ou pelos menos deveríamos saber.
Por isso é que não percebo como é que se cria uma campanha publicitária associando a velocidade da internet e as suas vantagens a ideias que se sabem responsáveis por tanta desgraça humana no nosso país. A mais recente campanha televisiva da Portugal Telecom ao seu produto Sapo Fibra é um autêntico absurdo: um carro de luxo circula a alta velocidade pelas ruas da cidade, ultrapassando pela direita em cima de passadeiras, com uma passageira no banco traseiro sem cinto e conduzido por um motorista vestido de sapo que nem mantém as mãos no volante durante as manobras.
Será que na normal e, supõe-se, exigente cadeia que assegura este tipo de produções publicitárias, desde os criativos ao cliente, ninguém tenha tido o bom senso de somar o chorrilho de asneiras contidas em menos de um minuto de televisão, e dizer “É pá, se calhar isto é capaz de ser politicamente pouco correcto…”. Só talvez por falta de tempo é que não filmaram o Rolls Royce a subir passeios e a atropelar intrepidamente velhinhas com modems dentro das malas de mão. Não há uns jogos de computador em que se tem de fazer algo parecido?
Tendo em conta que, como me dizia há poucos dias um especialista em questões de mobilidade do Instituto Superior Técnico, estamos ainda na primeira geração com carro, ter o automóvel um papel principal na escala de valores vendidos pela publicidade feita em Portugal não é de grande relevância. Já é chocante que, numa realidade rodoviária trágica como a nossa, onde a velocidade excessiva e as manobras perigosas têm o peso conhecido nas estatísticas e onde o uso do cinto de segurança para os passageiros que viajam no banco de trás é um dos lite motive das mais recentes campanhas de prevenção, sejam exactamente as ideias base duma campanha publicitária. Ainda por cima com uma linguagem própria da geração do futuro!
Uma “tia” de mini-saia às cambalhotas no banco traseiro dum Rolls pode até ser o ideário de algum do jovem target da campanha, mas duvido que a Telecom portuguesa fique contente por ter a sua imagem associada a comportamentos que no limite, têm diminuído a quantidade dos eventuais futuros clientes.
Ironicamente, ou não, o filme termina com o carro a fazer chiar os travões aos portões do edifício da presidência da Câmara Municipal de Lisboa, edilidade supostamente empenhada numa nova abordagem à mobilidade…
23 de Setembro de 2009 às 22:33
Eu acho mesmo é que a TV “adormece” quem a vê…o pessoal vê pub e está dormente….tipo o Homer dos simpsons…só pode.